Dieta x câncer: o que comer na prevenção e no combate à doença

Jejum intermitente, dieta cetogênica. Dietas como essas, e outras, vez ou outra entram no noticiário e nas redes sociais, muitas vezes propagandeadas por celebridades. Nutricionistas e nutrólogos tendem a não recomendar dietas muito restritivas, já que, com algumas exceções, a maioria das pessoas precisa de todos os grupos alimentares. Mas como essas dietas e alimentação influenciam na prevenção e também durante o tratamento de câncer, doença que atinge mais de 600 mil pessoas anualmente no país?

Segundo especialistas e pesquisas, uma média de 30% a 35% da incidência de tipos de câncer estão relacionados a hábitos de vida. E a alimentação inadequada – assim como a obesidade e o sedentarismo – é um dos principais fatores que influencia no surgimento dos mais diversos cânceres, como relata Cristiane Mendes, oncologista do InORP Oncoclínicas. “A gordura em excesso no corpo causa uma espécie de inflamação crônica que aumenta a produção de substâncias no organismo, lesionam células, e alteram nosso DNA acelerando o surgimento da doença”.

As famosas ‘dietas da moda’, em muitos casos, em vez de contribuir com a saúde do paciente, podem sobrecarregar órgãos e influenciar também no aparecimento dos tumores. “Não apoiamos dietas restritivas porque não sabemos os impactos a longo prazo. Dieta cetogênica, dieta restritiva em carboidrato, dietas somente com proteínas, tudo isso tem consequências para o organismo. Privá-lo de nutrientes tem impactos”, explica.

Para quem está passando por tratamento quimioterápico, as dúvidas surgem a cada instante, comenta a nutricionista Priscila Po Yee Cheung, do CPO Oncoclínicas.

“Em geral, as orientações em relação à alimentação saudável são as mesmas das pessoas que não estão passando por tratamento. A carne vermelha na forma de embutidos, devem ser particularmente evitados para a população em geral. A lactose e o glúten devem ser evitados por quem tem, de fato, condições como a intolerância à lactose e a doença celíaca respectivamente. Fora essa situação específica de saúde, todavia, não há motivos para cortar o consumo – e, diferente do que muitos acreditam, não é fato que esses alimentos provocam ‘inchaços’, como muitos acreditam”, explica. Cada indivíduo é avaliado individualmente em relação a seus hábitos de consumo e sintomas apresentados durante o tratamento.

Depois da pós-quimioterapia, o paciente precisa seguir uma dieta balanceada, segundo a especialista. “Muitas pessoas inclusive mudam seus hábitos quando precisam encarar o tratamento do câncer, como quimioterapia, e levam isso para o resto da vida. O ideal é acompanhar com especialistas, para verificar o que de fato pode ser prejudicial para cada tipo de pessoa. Dietas da moda, em geral, não levam em consideração os aspectos individuais, além de buscarem muito mais uma perda de peso do que uma melhora na saúde”, alerta Priscila.

Imunidade e alimentos cancerígenos

Durante o tratamento oncológico, a possibilidade de queda de imunidade é grande e o paciente fica mais suscetível a ter infecções. É necessária uma alimentação equilibrada, para restabelecer o organismo, além de hidratação.

“É importante dar preferência para os alimentos leves no dia do tratamento e de mais fácil digestão, para prevenir, por exemplo, vômitos, sensação de empachamento e alteração no intestino. Sabemos que o excesso de consumo de alimentos como presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela, peito de peru e blanquet de peru podem aumentar a chance de desenvolver câncer. Os conservantes e o excesso de sódio estão relacionados a alterações nas células do intestino e estômago, o que pode estar relacionado ao surgimento de lesões também”, afirma Cristiane.

Em 2021, foi apresentado um resultado de estudo na ASCO, o maior Congresso Americano de Oncologia do mundo, que aponta uma relação ainda mais estreita entre o excesso de consumo de carne vermelha e as mutações celulares causadoras de neoplasia de intestino, segundo Cristiane.

“O ideal é que nossos pacientes façam uma avaliação antes, durante e após o tratamento. Apoiamos adequações na alimentação no sentido de melhorar qualidade e variedade da alimentação. Desaconselhamos dietas restritivas, porque ainda não conhecemos o impacto delas ao longo prazo. O ideal é combinar sempre dieta equilibrada entre fontes de proteína, carboidrato e gordura”, avalia.

Comorbidades e nutrição

Conforme a oncologista destaca, algumas medicações alteram o equilíbrio do metabolismo: por exemplo, o bloqueio hormonal pode provocar descalcificação óssea, aumentando o risco de osteopenia e osteoporose. Outras drogas e a própria desnutrição podem alterar funcionamento das glândulas.

“Por isso a nossa tendência é indicar uma dieta que forneça fonte de vitaminas, sais minerais e calorias suficientes para a pessoa manter o metabolismo adequado. Alimentação e atividade física é algo que a gente sempre orienta para controle de peso e controle de comorbidade quando o paciente tem. Para paciente hipertenso, por exemplo, manter a dieta com a quantidade adequada de sal”, recomenda.

Para o paciente diabético, uma dieta com carboidrato mais controlado e menos açúcar na alimentação é indicada.

“Na nossa rotina, encorajamos o paciente a cuidar da alimentação e fazer atividade física para melhorar a tolerância ao tratamento, recuperar a imunidade e com isso alcançarmos melhores resultados. Não podemos esquecer que é fundamental cuidar das doenças preexistentes, como hipertensão e diabetes por exemplo. E claro estimulamos que estes hábitos saudáveis permaneçam por toda vida, porque eles também diminuem as chances de a doença voltar. É importante ressaltar que abandonar vícios como cigarro e álcool, também fazem parte das orientações”, conclui.