Psicóloga Adriana Biem: E quando a comunicação falha no relacionamento?
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Às vezes parece que dizemos A e o outro escuta B. Às vezes temos a sensação de que falamos outra língua. E se de fato estivermos falando?
O ser humano tem diferentes tipos de inteligência. Alguns têm mais facilidade com números, é a inteligência lógico-matemática, outros têm mais facilidade com palavras, são aqueles que possuem a inteligência linguística. Ainda existe a inteligência interpessoal, a musical, a existencial, entre outras. São nove, segundo o psicólogo americano Howard Gardner, que desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas na década de 1980.
Talvez seja por esse motivo que de vez em quando sentimos tanta dificuldade de comunicação com algumas pessoas no nosso dia a dia, no trabalho, e principalmente nos nossos relacionamentos amorosos.
Além disso, existe a dificuldade da própria comunicação do que se está sentindo, e antes disso ainda, a dificuldade do entendimento desses sentimentos.
É normal que às vezes fiquemos confusos com o que estamos sentindo e acabemos tendo um acesso de raiva quando o que na verdade estamos sentindo, é solidão. Os sentimentos são muito complexos e é natural que às vezes eles fiquem embaralhados e nebulosos, e que não sejamos capazes de expressá-los da melhor forma.
Não estamos muito acostumados a falar dos nossos sentimentos e quando não temos esse treino, a forma de expressão quase nunca sai muito boa.
Agora pense um pouco. Se nem nós mesmos às vezes conseguimos entender o que estamos sentindo, por que será que esperamos que o outro o faça? Por que esperamos do (a) nosso (a) parceiro (a) toda a responsabilidade de entender o que nem nós mesmos conseguimos compreender? Jogamos muitas vezes essa responsabilidade no outro sem perceber a complexidade do mundo interno de cada um.
Depois que nós mesmos formos capazes de entendermos e nomearmos nossos sentimentos, precisamos ainda quebrar a barreira da expressão daquele sentimento. O outro pode não entender porque não estamos sabendo verbalizar, colocar em palavras o que está lá dentro, ou também porque não reconheça nele determinadas emoções, não sabendo lidar com algo que foi dito.
Não é concordar com o que o outro fala, e sim compreender. Precisamos trabalhar a nossa escuta e não ouvir somente para responder ou se defender. Não validar o sentimento de alguém pode ser uma das coisas mais cruéis que você pode fazer, porque afinal se a pessoa está sentindo algo, aquilo deve ter alguma importância e ele espera ao menos uma compreensão do (a) seu (a) companheiro (a).
Chamar em uma discussão alguém de louco, dramático ou exagerado de nada adianta a não ser afastar mais um do outro, e quanto mais distantes estamos, menos podemos compreender. Se para você determinada reação parece exagerada, não significa que o outro de fato não esteja sentindo aquilo e é preciso entender o que mobilizou aquilo nele.
É importante também que saibamos explicar ao outro o que esperamos dele em nossas conversas. Às vezes queremos somente uma escuta e não uma solução imediata, mas ninguém tem a obrigação de adivinhar o que estamos sentindo, é preciso falar.
O processo de autoconhecimento é muito importante para melhorarmos a nossa comunicação. Entender o que há dentro de nós, o que esperamos de nossos relacionamentos e porque esperamos, nos mostra nossos próprios aspectos emocionais e nossas carências afetivas, nos faz ter mais empatia quando conseguimos receber a informação de uma forma mais positiva. Entender que a comunicação pode ser feita de várias formas e não somente de forma verbal também ajuda.
A psicoterapia pode ajudar nesse processo de desenvolvimento de uma comunicação mais efetiva. Ao entendermos o que está dentro de nós, como falar isso de uma maneira mais saudável e entender o porquê de vez em quando o outro parece não entender, ajuda a desenvolvermos essa capacidade, mesmo não sendo o nosso principal tipo de inteligência.
*Adriana Cardoso Biem – Psicóloga Clínica, especialista em Gestalt-Terapia, escreve quinzenalmente no Jornal Cotia Agora. Formada pela Universidade São Marcos, especialista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Atende em Alphaville (Barueri/SP) e Granja Viana (Cotia/SP) –CRP 06/80681 – Contatos: [email protected] – www.facebook.com/adrianabiempsicologa – @adrianabiempsi (Instagram)