Cotia ganha um “Parque Gigante”, mas o futuro da água depende do esgoto

Por Fernando Confiança, Arquiteto, Urbanista e Especialista em Mobilidade Urbana.

A gente, que vive em Cotia, acaba de ganhar um presente enorme: o Parque Estadual do Morro Grande. Não é só mais uma praça. É uma área de proteção máxima, reclassificada para proteger a água que bebemos – a Reserva se tornou uma Unidade de Proteção Integral com foco em mananciais. (Decreto Estadual nº 70.046/2025).

Como Arquiteto e Urbanista, vejo essa mudança com os olhos no futuro. O Parque é, para a cidade, o que o diploma de faculdade é para você: o ponto de partida para um futuro melhor. Ele nos dá um status de cidade verde, atrai um turismo de alto valor (o ecoturismo) e garante nosso recurso mais precioso.

Vejo que o Decreto que cria o Parque Estadual do Morro Grande é um cheque em branco de desenvolvimento sustentável para Cotia. É a nossa chance de virar referência de cidade inteligente, conectada e que cuida da natureza.

Mas, calma lá. O Ranking de Competitividade dos Municípios (CLP), o “boletim” oficial das cidades (que avalia 418 municípios), mostra que o nosso cheque pode ser devolvido.

Cotia está na 172ª posição geral, um resultado mediano. E o pior: nas áreas que importam para o Parque, a nota é vermelha.

Os dados do CLP mostram, que os desafios de Cotia são o Saneamento e o Funcionamento da Máquina Pública.

Pense o seguinte: se a principal missão do Parque é proteger a nossa água, faz sentido que Cotia tenha um desempenho fraco em Saneamento (coleta e tratamento de esgoto)? Claro que não. A preservação da floresta é insuficiente se o esgoto sem tratamento ou os vazamentos de água estiverem sabotando as nascentes. Essa é a nossa Prioridade Número Um, na qual todo o investimento deve ser concentrado agora.

Em segundo lugar, a Gestão Pública é lenta. Para atrair o investimento em ecoturismo ou em empresas de Tecnologia Verde – que buscam cidades de alta qualidade – a prefeitura precisa ser rápida, transparente e eficiente (outro problema crônico). E, claro, precisa planejar uma Mobilidade Urbana que priorize o acesso sustentável ao Parque (ciclovias, trilhas) em vez de apenas liberar mais carros.

O futuro de Cotia como ‘Cidade da Água Protegida’ depende da capacidade de sua Administração em alinhar a lei ambiental de ponta à infraestrutura urbana básica e eficiente. E os dados oficiais do CLP estão aí para provar isso.

A nova geração deve cobrar. Não basta ter um Parque lindo, é preciso ter a gestão e o saneamento à altura dele. A natureza fez a sua parte; agora, a administração pública precisa fazer a dela.