Cigarro eletrônico altera estrutura dos dentes e aumenta risco de cáries
Os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, são dispositivos compostos por uma bateria que vaporiza um líquido com nicotina criando um vapor inalado pelo usuário, simulando o tabagismo. Com a recente popularização desse tipo de cigarro e a falta de informações quanto aos potenciais efeitos do uso para a saúde, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da USP decidiram investigar as consequências nos tecidos dos dentes. Como resultados, verificaram que a exposição aos vapes aumenta os riscos de cáries e altera a superfície dos dentes.
Alguns estudos já apontam riscos aumentados dos cigarros eletrônicos a problemas cardiovasculares e respiratórios, além de que os vapes fornecem aos usuários até seis vezes mais nicotina que 20 cigarros comuns. Agora, para verificar a ação na saúde bucal, principalmente em longo prazo, a equipe do Departamento de Odontologia Restauradora da Forp desenvolveu um equipamento personalizado, uma máquina de teste de cigarro eletrônico que simula trago e inalação do vapor de vapes em dentes humanos. Após testes e análises, os pesquisadores observaram desmineralização do esmalte e dentina, além das facilitações para as cáries agravadas pelo aquecimento do líquido do cigarro.
Os resultados da pesquisa, coordenada pelos professores Aline Evangelista de Souza Gabriel e Manoel Damião de Sousa-Neto, com a participação das pós-doutorandas Alice Corrêa Silva Sousa e Vitória Leite Paschoini, podem ser conferidos na Archives of Oral Biology.
Dentes humanos de biobanco da Forp
Para simular o uso constante do vape, além da máquina de teste para o cigarro eletrônico, os pesquisadores definiram um protocolo que “consistiu em inalar tragos de três segundos, com intervalos de um minuto entre cada trago”, informa Alice Sousa, dizendo que essa rotina foi mantida por quatro horas diárias durante 30 dias consecutivos.
No experimento, foram utilizados dentes molares humanos obtidos do Biobanco de Dentes Humanos da Forp. Colega de Alice, a pesquisadora Vitória Paschoini conta que um “biobanco é uma estrutura institucional que armazena amostras biológicas, como dentes, de forma organizada e ética, para serem utilizadas em pesquisas científicas”.
Os dentes molares, no estudo, foram expostos ao vape através da máquina especial composta de uma bomba de sucção, mangueiras e um cronômetro. A simulação, no total, durou 104 horas e utilizou 52 ml de e-líquido – substância que é vaporizada e inalada pelo usuário -, que contém em média 50 mg de nicotina por ml, o que totaliza 2600 mg de nicotina. Segundo Vitória, a quantidade média de nicotina em um cigarro é de 1,5 mg; desta forma, o protocolo usou o equivalente a 1733,33 cigarros ou 86,66 maços de cigarros.