Coluna de Lúcio Cândido Rosa: O Carnaval na visão espírita

Caro Leitor!

O Carnaval, é uma festa popular realizada em vários locais do mundo, mas com maior destaque no Brasil, por sua conotação turística.
O Carnaval não é uma invenção brasileira, pois sua origem encontra-se na Antiguidade.
É uma festa que nasce em função do cristianismo e que antecede a quaresma e a Páscoa.
Como sabemos, Moisés tirou seu povo do jugo dos egípcios, atravessando o Mar Vermelho. E, essa passagem é comemorada até os dias atuais, com muita festa e alegria, pelo povo judeu.

Essa festa da passagem, ou “ Pessach”, como é chamada pelos judeus, era comemorada em Jerusalém, onde o povo se reunia todos os anos.
Jesus, era judeu, e também participava dela. Foi nessa ocasião que Ele foi preso e crucificado.
Quando Constantino resolveu adotar o cristianismo como religião para seu povo, reuniram-se os Cardeais para nortear a crença nascente.
A partir do Concilio de Nicéa, esse período de festas por causa da “Pessach”, onde celebrava-se a alegria por muito bons motivos, transformou-se num período de tristeza e reflexões pela vida e obra do Cristo.

Antecedendo a comemoração da crucificação de Jesus, foi determinado 40 dias de abstinência dos prazeres mundanos. Os cristãos deveriam evitar muito de seus costumes: dançar, cantar, beber, fumar, jogar, etc., que para eles era um sacrifício muito grande.
Esses 40 dias foram denominados “Quaresma”, onde deveria ser realizado jejum e recolhimento, demonstrando assim, uma tentativa da Igreja Católica de controlar o desejo dos fiéis.

Mas, para compensar todo esse sacrifício, foram liberados quatro dias de “folia”
onde poderiam extravasar seus instintos, ante do período de recolhimento.
Esses dias foram denominados “Intrudo”, que através dos tempos foi substituído pelo carnaval, palavra originaria do latim: “carnis levale”, cujo significado é “retirar a carne”, ou seja, os desejos da carne nada valem, e o homem deveria elevar-se espiritualmente.
Essa festa tem suas origens históricas em outras que já existiam na antiguidade, ligadas aos costumes pagãos, que geralmente antecediam ao período da comemoração da “Pessach ou Páscoa, como é conhecida por nós hoje.

Na Babilônia, havia duas festas que possivelmente originaram o carnaval que conhecemos hoje: – as Saceias, uma celebração em que um prisioneiro assumia, durante alguns dias, a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se como ele e dormindo com suas esposas.
Ao final, ele era chicoteado e torturado até a morte.

Outro ritual era realizado próximo ao equinócio da primavera, na Mesopotâmia, em comemoração ao ano novo.
O ritual ocorria no templo de Marduk (um dos primeiros deuses mesopotâmicos), onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade.
Em seguida, ele voltava novamente a assumir seu trono.

O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao Carnaval nos dias de hoje, é o caráter da perversão moral dos papéis sociais, ou seja, a transformação temporária de um prisioneiro em rei e, a humilhação do rei frente ao seu deus.
Possivelmente, a subversão de papéis sociais no Carnaval, como os homens e mulheres vestirem-se de outras práticas que não as suas, é associável a essa tradição mesopotâmica.

A associação do Carnaval e das orgias, pode ainda relacionar-se com as festas de origem greco-romana, como os bacanais e festas dionisíacas.
Essas festas eram dedicadas ao deus do vinho: Baco para os romanos, e Dionísio para os gregos; marcados pela embriaguez e pelos prazeres da carne.
Havia ainda, em Roma, a Saturnália, comemoração pelo fim de ano agrário e religioso, e também ao fim do ano velho, dando início ao novo, com as esperanças e expectativas quanto às próximas colheitas que começavam. Tudo isso acontecia no solstício em dezembro.
A Lupercália, seria em fevereiro, um mês onde acreditava-se que as divindades infernais (maus espíritos) atormentavam os humanos.
Essa cerimônia servia para espantar os maus espíritos e purificar as cidades, assim como para liberar a saúde e a fertilidade às pessoas açoitadas pelos lupercos.

Tais festas duravam dias, com comidas, bebidas e danças. Os papéis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se no papel de seus senhores, e vice-versa.
As festas citadas eram, celebrações pagãs e extremamente populares.

Com o fortalecimento do poder da Igreja, esta não via com bons olhos essas celebrações nas quais as pessoas entregavam-se aos prazeres mundanos. Havia a crítica da inversão das posições sociais, pois, para a Igreja, ao inverter os papéis de cada um na sociedade, invertia-se também a relação entre Deus e o demônio. Então, procurou ressignificá-las dando-lhes um senso mais cristão.
Dessa forma, durante a Idade Média, foi criada a Quaresma – período de 40 dias antes da Páscoa, caracterizado pelo jejum e o “intrudo” que a precedia.

Com tudo isso, a Igreja pretendia, dessa forma manter uma data para as pessoas cometerem seus excessos, antes do período da severidade religiosa, pois as festas até aquela data estendia-se durante várias semanas, entre o Natal e a Páscoa.
No Brasil, o carnaval começou no período colonial. O intrudo, de origem portuguesa que, na colônia era praticada pelos escravos, saindo nas ruas jogando lama e dejetos uns nos outros, foi proibido em 1841, mas continuou até meados do século XX.
Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os carros e escolas de samba. Logo após, os frevos e maracatus, samba e outros gêneros musicais, incorporado à maior festa cultural do Brasil.

Como podemos ver, o carnaval transformou-se numa festa cultural, em vez de religiosa.
É uma festa com muita fantasia, purpurina, brilho, alegoria, que atraem grande público.
E o que as obras literárias espíritas dizem sobre o carnaval?
É um período em que há uma explosão de sentimentos bons e ruins. Não devemos aderir ao que há de ruim nessa festa e nem a demonizar. Não podemos cair nos extremos.
O fiel dessa balança está dentro de nós.
Se dermos brechas aos nossos instintos, estaremos à mercê das forças do mal.
Não sabemos o desdobramento espiritual que está por trás dessas ações. Não sabemos quais espíritos que estão no comando da mente das pessoas que saem à rua, inclusive na nossa.

Estamos neste planeta vivendo uma experiência de vida para corrigir nossa rota de evolução.
Não sabemos quais os espíritos estão comandando a mente, que estão adormecidas, começando a cicatrizar e que poderão desabrochar, quando nos deparamos com algumas situações que poderão despertá-las e não conseguirmos controlá-las.
Então é conveniente que vivamos o “bom carnaval”. Programando passeios com a família, aproveitando bem o convívio, com brincadeiras e diversões saudáveis promovendo a união e a paz entre todos.

*Colaboração de Aracy Salvatina S. De Souza

  • Lucio Cândido Rosa escreve sobre espiritismo e espiritualidade no Jornal Cotia Agora. Quer enviar sugestão de algum tema para que ele aborde? Envie para o email [email protected]