Coluna de Marcos Martinez, o professor Marcão: Eu Fico Louco*

“Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos, e vivemos
Como os nossos pais”
Belchior

Para escrever sobre a juventude não poderia desconsiderar os meninos e meninas influenciadores que dominam o YouTubecom milhões de seguidores e que medem sua força por meio dos números de views (visualizações) que recebem diariamente. Li os três livros do youtuber Christian Figueiredo, tentando encontrar que mal ele faz para aqueles que o seguem. Passei semanas assistindo a influenciadores com estilos diferentes que abordam temas dos mais variados e não vi nenhum pecado capital.

Talvez o mais demonizado seja o influenciador Felipe Neto, não tão jovem, com 43 milhões de seguidores e milionário. Não vi nada em seus vídeos que deseduque ou desencaminhe nossos jovens O canal Você Sabia, comandado pelos jovens Lukas Marques e Daniel Molo, aborda assuntos sobre conhecimentos gerais. Eles têm 42 milhões de seguidores. Será que esses jovens que fazem sucesso nas redes sociais ditam valores positivos ou negativos para os jovens que os seguem?

Voltando ao passado e utilizando o trecho da letra de uma música do cantor Belchior, da década de 70,“Como nossos pais”, tento aprofundar o assunto: porque alguns adultos têm tanto medo da juventude? Depois que ficam adultos a caminho da velhice, cometem os mesmos erros dos pais que eles criticavam. Não adianta proibir seus filhos de assistir a alguns influenciadores das redes sociais e liberar a Netflix. Liberar o celular sem restrição é outro erro. Talvez a melhor saída seja sentar-se com seu filho e assistir a esses canais, opinar sobre o que você acha legal e o que não é legal. Dialogar é mais convincente do que proibir.

Será que esses milhões de seguidores jovens dos influenciadores são completamente alienados? Com certeza não. Alguns adultos desenvolvem, com o tempo, certa versão ao que é novo. Os filhos crescem e os pais não percebem ou fazem de conta que não percebem. Têm dificuldade de serem analisados e criticados pelos filhos. Não conseguem conversar. Eles crescem em todos os sentidos. Ditamos valores superficiais e nos quais muitas vezes nem acreditamos. Está aqui um assunto em que os jovens evoluíram muito: sexualidade, que gerações anteriores têm dificuldade de aceitar as mudanças e conversar sobre elas.

Vários grupos de jovens na frente de uma escola, após a saída do horário escolar, com estilos diferentes de cabelos e roupas coloridas, fazendo o maior burburinho: falam alto, sorrisos extravagantes. Nem aí com quem está passando. Alguém comenta preconceituosamente: “nada sabem sobre a vida. Turma de vagabundos. Irresponsáveis. Na minha juventude era diferente e melhor, tínhamos educação (educação doméstica)”. Quem pensa assim sobre a juventude precisa de cuidados psicológicos. Precisa urgentemente rever seus valores. Inveja adoece. Imagine sua experiência de vida coma experiência da juventude, construiriam uma energia tão forte que poderíamos avançar e revolucionar muitas coisas. Tabus seriam derrubados.
Sem muita certeza: precisamos prestar atenção à juventude, escutá-los e dialogar (Dialogicidade). A juventude tem esse jeito que aparentemente incomoda e é irreverente, porque seu tempo é outro e diferente do nosso. Que bacana se pudesse existir uma simbiose entre as gerações. Não são os outros que estragam a juventude, somos nós que nos distanciamos dela anos-luz.

Uma boa conversa para um próximo texto seria sobre autoritarismo e autoridade. Seria importante para aprofundarmos algumas afirmações feitas neste texto.

P.S.: quem tem tantos seguidores (milhões) não pode ser desconsiderado. Alguma coisa de interessante tem. Preste atenção, ranzinza. Risos.
*O título deste texto foi retirado do livro do youtuber Christian Figueiredo. O influenciador Christian Figueiredo de Caldas tem mais de 19 milhões de seguidores.

*Marcos Martinez – Escritor – formado em História –, atuou na Secretaria da Educação de Cotia de 2000 a 2008. Atualmente presta trabalho na fundação Gentil na elaboração e implantação de projetos educacionais para o Ensino Fundamental. Escreveu os livros Memória &imagem e Hospital de Cotia: um símbolo.