Coluna de Rafael Oliveira e o som do Black Pantera, no disco Perpétuo
O SOM, A LUTA E A FORÇA DA MÚSICA NEGRA NO METAL, TUDO NO DISCO PERPETUO
A banda, formada por Charles da Gama (guitarra e voz), Chaene da Gama (baixo e voz) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), junta todo seu vigor do crossover — punk, hardcore, metal — com percussões, groove latino e referências afro-latinas.
O título Perpétuo já dá pista: o que é feito aqui pretende durar, reverberar, resistir. As lutas, as feridas, as chamadas ancestrais, as tensões sociais — tudo isso compõe o tecido do disco.
Faixa a faixa — a experiência de ouvir:
Aqui vai o rolê: cada música é uma cachaça diferente — umas te acertam logo no rosto, outras vão te molhando devagar, até você sentir tudo.
Provérbios – Abre o disco com groove, com reggaeton às vezes, com referências latinas. É uma “chamada” de irmão latino-afro — identidade, união, revolução.
Você sente: tem urgência, mas há também política, consciência negra. É o início de uma luz que clareia o que vem depois.
Perpétuo – Faixa-título. Espiritualidade, ancestralidade, orgulho, resistência. A paisagem que Chaene viu em Pernambuco, a noção de “já ter estado ali” em outras vidas — tudo isso passa no escuro claro da guitarra, nos arranjos de percussão. A voz dele “mais limpa” contrastando com o peso da guitarra te leva a refletir: não é só gritar, é invocar raízes.
Boom! – Agora o bicho pega: explosão sonora e ritmo mais ríspido, o baixo e a bateria puxam juntos. Essa faixa é para levantar do sofá, para deixar o corpo reagir.
Você sente energia agressiva, mas não vazia — é indignação canalizada, é força de viver apesar de tudo.
Tradução – Uma das mais emocionais do disco. Homenagem à mãe, à vida das mulheres pretas que trabalham muito e são pouco vistas.
Aqui a banda descansa um pouco o peso instrumental, permite que a melodia, o sentimento falem mais alto. É daquelas que te apertam o peito. A escuta pede atenção, cabeça baixa, coração aberto.
Fudeu – Volta o impacto. Letra direta sobre abuso de poder, polícia, raça. O som é mais pesado, mais cru. Um soco sonoro.
Serve para acordar quem anda meio anestesiado, pra lembrar que viver preto nesse país é bandeira de luta.
Promissória – Tem uma sensação de cobrança histórica aqui. É rosto sério. A música fala sobre dívida — não só econômica, mas simbólica, moral — que colonizadores, heranças, sociedade têm com o povo preto.
Musicalmente tem momentos crus e momentos com certa melodia sombria, como se estivesse olhando pra longe com olhar de quem não esquece.
Candeia – Essa é uma luz dentro do peso. A canção tem uma base percussiva forte, voz falada em trechos, guitarra entrando nos momentos de tensão. A frase “Somos vela que incendeia a casa grande” não é só metáfora — é fogo simbólico. Aqui você sente traços do Brasil profundo, ancestralidade, maracatu, ruído, beleza rústica.
Black Book Club – Manual de sobrevivência para o povo preto. Riff progressivo, groove firme, influência de bandas como Living Colour — mistura de técnica e mensagem.
A letra exige atenção: há inteligência no jogo de palavras, invocação de filosofia negra, crítica social. É daquelas que ecoam depois que você para de ouvir.
Sem Anistia – Rápida, agressiva, quase um tapa na cara. Menos de dois minutos, thrash metal puro. Fala de memória política recente — invasão dos poderes em Brasília em 2023. Sem dó de inocente.
Aqui a tensão é máxima. Ouvir essa faixa é sentir o peso da história ativa.
Mahoraga – Inspirada em anime (“Jujutsu Kaisen”), mas vai além do mangá: serve metáfora de entidade invencível que se adapta, de resistência, de luta interna e externa.
O instrumental tem partes mais densas, climáticas, riffs imponentes. Depois da fúria de “Sem Anistia”, esse acerto vem mais focado.
Mete Marcha – Mistura ritmos, é hibridismo. Punk, percussão, orgulho negro bem claro. No final, recitam o poema “Ainda Assim Eu Me Levanto”, de Maya Angelou — momento poderoso, tubular.
Essa faixa prepara para o encerramento, mistura de fúria, esperança, reafirmação.
A Horda – Fechamento brutal. Riff pesado, peso, baterias velozes, sensação de caos organizado — a metáfora de reunir os que lutam que resistem.
É impacto final, arco dramático: começo com ancestralidade, crítica, melodia, emoção, política; termina na força do coletivo, no grito de quem se importa.
Perpétuo é daqueles discos que não têm “enchimento”; cada faixa tem função e propósito.
Mas se for pra escolher a melhor faixa, a que mais tem sido destacada por público, crítica e até pela própria banda é “Perpétuo”, a faixa-título, para fazer parte da setlist do Programa Garimpo da Rádio Meteleco – https://meteleco.net – semanalmente exibido às 16hs de segundas as sextas-feiras.
Por que ela é a melhor?
• É o coração espiritual do disco.
• Mistura peso e transcendência — riffs duros, percussões afro e vocais que passam sentimento real.
• A letra fala de ancestralidade, identidade e resistência, temas centrais no som do Black Pantera.
• É onde o trio mostra equilíbrio entre fúria e reflexão.
• E o clipe oficial reforça essa atmosfera ritualística, meio sagrada, meio insurgente.
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Perpétuo não é só álbum de rock pesado — é documento de tempo, manifesto de dor e orgulho, chama que ilumina o que a história costuma querer enterrar. É urgente, visceral, belo. É daquelas obras que valem pra tua alma e pra tua consciência. É tradicional no sentido de honrar raízes, na lealdade das lutas antigas, mas também visionário ao projetar esperança e resistência que durem perpétuo.
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