Coluna Pedalar Mais: A infraestrutura e o ciclismo no Brasil

As ciclovias muitas vezes são vistas como espaços de lazer e diversão porque, em muitos lugares, foram projetadas com o foco na recreação e no uso turístico.

Cito alguns pontos que explicam essa percepção:

  1. Localização: Muitas ciclovias estão situadas em áreas de parques ou à beira de rios, o que as torna mais atraentes para passeios e atividades de lazer.
  2. Design: As ciclovias costumam ter um design que prioriza a experiência do ciclista, como paisagens agradáveis, ao invés de serem integradas de forma funcional à rede de transporte urbano.
  3. Infraestrutura: Em algumas cidades, a infraestrutura para bicicletas ainda é limitada, o que faz com que as ciclovias não sejam sempre a rota mais rápida ou prática para o deslocamento diário.
  4. Cultura: A cultura da bicicleta em muitas localidades está mais associada ao lazer do que à mobilidade, o que influencia como as ciclovias são percebidas e utilizadas.
  5. Falta de Conexões: Em muitos casos, as ciclovias não estão bem conectadas a outros meios de transporte público, dificultando o uso para deslocamentos diários.

Para que as ciclovias tenham um caráter mais voltado à mobilidade, é essencial que haja um planejamento urbano que integre essas vias com o sistema de transporte público e que considere as necessidades diárias dos ciclistas.

É verdade que cidades com menos de quinhentos mil habitantes não têm a obrigação legal de implementar ciclovias (mas nada impede), o que pode impactar a mobilidade urbana. Essa falta de infraestrutura dificulta o uso da bicicleta como meio de transporte, limitando opções acessíveis.

Além disso, a falta de ciclovias pode aumentar os riscos para ciclistas, desincentivando o uso da bicicleta e contribuindo para um maior número de veículos nas ruas. Seria interessante ver políticas que incentivassem a criação de espaços seguros para ciclistas, mesmo em cidades menores, para melhorar a mobilidade e a qualidade de vida.

Fátima Xavier é uma ciclista urbana apaixonada pela liberdade que a bicicleta proporciona. Ela utiliza as ciclovias das cidades do entorno da Rodovia Raposo Tavares diariamente, enfrentando desafios como o trânsito intenso e a falta de infraestrutura adequada em algumas áreas. Sua experiência reflete a realidade de muitos ciclistas que buscam alternativas sustentáveis de transporte, mas também enfrentam a falta de respeito e atenção por parte de motoristas.

Além de pedalar para se deslocar, a @fatimaxavier.rainhadaraposo, como se denomina no seu Instagram participa de grupos comunitários que promovem a cultura da bicicleta e a conscientização sobre a importância de um trânsito mais seguro. Ela acredita que cada pedalada é uma forma de contribuir para um ambiente urbano mais saudável e menos poluente.

“Sou Fátima Xavier, a Rainha da Raposo, e como ciclista urbana, minha experiência reflete a realidade que o texto menciona. Desde que comecei a pedalar ali, percebi como a falta de infraestrutura adequada torna minha rotina bem desafiadora. Eu uso a bicicleta não só como uma forma de lazer, mas também para me deslocar no dia a dia. Infelizmente, as ruas nem sempre são seguras. A rodovia Raposo Tavares é um exemplo claro: a ausência de ciclovias e a falta de conscientização e educação de alguns motoristas em relação aos ciclistas, criam um ambiente tenso para nós, ciclistas. Na minha rotina de ida ao trabalho, uso bastante a Raposo Tavares e deveria ser um trajeto prazeroso e tranquilo, mas infelizmente pela falta a de infraestrutura e conscientização, acaba se transformando em um desafio constante. Desafio esse, que pode afastar muitas pessoas que, como eu, veem a bicicleta como uma opção sustentável e saudável.”

As experiências de Fátima mostram tanto as alegrias, a ponto de estilizar suas próprias roupas. Sua história é um reflexo da luta por uma cidade.

E assim, essa é a realidade na maioria das cidades do Brasil.
As ciclovias em áreas como a Marginal Pinheiros e as orlas de diversas cidades, tais como Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e demais cidades litorâneas do nordeste são exemplos de como o planejamento focado na recreação e no uso turístico pode criar espaços seguros e agradáveis. No entanto, é frustrante ver que, em muitas cidades, as vias compartilhadas não funcionam como deveriam, resultando em acidentes e falta de respeito entre motoristas e ciclistas.

As rotas turísticas, tais como, a Rota Mata Atlântica e a Rota Márcia Prado, deveriam proporcionar experiências seguras e encantadoras, mas se tornam problemáticas se a infraestrutura ao redor não for bem planejada ou se a segurança não for priorizada. O furto de bicicletas e a falta de sinalização adequada são questões sérias que precisam ser abordadas para garantir que essas rotas sejam realmente atrativas e seguras, não somente belas.

O baixo uso da bicicleta na mobilidade urbana no Brasil é uma questão complexa que envolve diversos fatores interligados.
A percepção de insegurança no uso da bicicleta é um dos principais obstáculos. Muitas pessoas se sentem ameaçadas ao pedalar em vias compartilhadas com veículos motorizados. O comportamento agressivo de motoristas e a falta de respeito às normas de trânsito contribuem para essa sensação, tornando as ciclovias e ciclofaixas muitas vezes insuficientes para garantir a segurança dos ciclistas.

Além disso, há um grande desconhecimento sobre os benefícios do uso da bicicleta, tanto para a saúde quanto para o meio ambiente. A falta de informação sobre como a prática pode reduzir o estresse, melhorar a condição física e contribuir para a diminuição da poluição impede que mais pessoas considerem a bicicleta como uma alternativa viável para o transporte diário.

O imaginário da sociedade também desfavorece o uso da bicicleta. Em um contexto em que o carro é visto como símbolo de status e conforto, a bicicleta é frequentemente subestimada e associada a uma imagem negativa. Essa percepção cultural contribui para que muitas pessoas não vejam a bicicleta como um meio de transporte legítimo.

O baixo engajamento do poder público na priorização do uso da bicicleta também é um fator crucial. Políticas públicas que incentivem a construção de ciclovias seguras, campanhas de conscientização e investimento em infraestrutura são ainda limitadas. Sem essa priorização, o uso da bicicleta não é efetivamente promovido.

Por fim, o trânsito violento é um fator desestimulante para o uso da bicicleta. O medo de acidentes e a alta taxa de mortalidade no trânsito contribuem para que muitas pessoas optem por veículos motorizados em vez de bicicletas.

Para reverter essa situação e aumentar o uso da bicicleta na mobilidade urbana, é essencial promover uma mudança cultural, investir em infraestrutura adequada, informar a população sobre os benefícios e engajar o poder público na criação de políticas que priorizem esse modal. Somente assim será possível transformar a bicicleta em uma alternativa viável e segura para o transporte nas cidades brasileiras.

As ciclovias devem ser um espaço de convivência saudável e seguro, promovendo não só o uso da bicicleta, mas também um estilo de vida mais ativo e sustentável.
Ciclistas como Fátima Xavier são verdadeiros exemplos de como a bicicleta pode transformar o cotidiano. Utilizando suas bikes como meio de transporte, eles não apenas promovem a saúde e o bem-estar, mas também cultivam uma conexão mais profunda com a cidade e a comunidade.

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