Família de Toninho Despachante doa coleção de livros à comunidade cotiana

Um gesto que ele, se vivo estivesse, teria aplaudido e ficado muito feliz. Toninho Despachante, também conhecido como Toninho Patesco, morreu em novembro passado e era dono de uma vasta coleção de livros e publicações.

A família cumpriu um desejo dele que era doar todas essas publicações, algumas raras, à municipalidade, aos cidadãos cotianos para que possam adquirir conhecimento através da leitura.

Todo o material foi entregue nesta terça-feira na Secretaria de Cultura de Cotia. O empresário Marcênio Mange e o jornalista Beto Kodiak estiveram no prédio do Cesep para fazer a entrega ao secretário Givaldo da Costa.(Na foto, Givaldo, Marcênio, Fábio, Edna Saldanha e Beto Kodiak)

O secretário disse que as publicações serão distribuídas para bibliotecas e escolas e no próximo final de semana parte do material será levado para a comunidade do Caputera.

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Quem foi Toninho

Antonio Carlos Vaz, ou Toninho Despachante e Toninho Patesco, tem muita história na cidade. Quem relembrou alguns ‘causos’ do Toninho foi o Marcênio Mange, com quem trabalhou por muitos anos. Fizemos uma cronologia da vida do Toninho Despachante desde sua adolescência e a importância dele para alguns profissionais de diversas áreas de trabalho.

As histórias relembradas pela família e pelo Marcênio começam lá na década de 40, quando Toninho foi seminarista, ao lado de dois outros cidadãos cotianos, o Osvaldo Manoel de Oliveira (Osvaldão) e Calil Nicolau. No seminário aprendeu muito. Dali saiu com um vasto conhecimento em teologia e filosofia e idiomas como o grego e latim.

Os três amigos não seguiram no seminário e muitos de seus antigos companheiros se tornaram padres e bispos e importantes advogados (assim como Osvaldão e Calil), juízes, desembargadores e ministros.

Política: Chefe da Fazenda? Quase foi

No final da década de 40, Toninho já era bem relacionado com pessoas importantes de Cotia e da Capital. Frequentava a Assembleia Legislativa quando ainda era no Parque Dom Pedro. Da amizade com o deputado Diógenes Ribeiro de Lima veio o convite para assumir o cargo de chefe da Secretaria Estadual da Fazenda. Porém, no dia da nomeação, só então os políticos souberam da idade de Toninho na época: 17 anos. Como a Lei não permitia que menores de 21 exercessem qualquer cargo deste tipo, o jovem não pode assumir o ofício.

Ainda na política, Toninho foi um braço direito e amigo do ex prefeito Emílio Guerra. Nos anos 90 orientou membros do PSC – Partido Social Cristão de todas as cidades da região sobre documentações e registros de candidaturas, algo que muitos deles nem sabiam como proceder.

Início do Hospital de Cotia

Toninho Vaz esteve ligado diretamente aos primeiros trabalhos oferecidos pelo Hospital de Cotia à população da cidade. Logo após a inauguração, fez parte da turma inicial do pronto socorro do hospital e era chefe administrativo, trabalhando com o primeiro médico do local, o Dr. Edson Federighi.

Depois do HC, Toninho foi chefe de RH (Recursos Humanos) do Escritório Regional de Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde em Jandira. Anos depois exerceu a mesma função em Osasco. Logo após, se aposentou.

Despachante, ensinando e auxiliando profissionais

Nos anos 80 Toninho, já aposentado, prestou concurso para Despachante. Depois de formado, foi fazer estágio ao lado do Marcênio, no antigo despachante na Rua Senador Feijó, no centro de Cotia, que depois se chamaria Halley.

No ofício de despachante, em março de 1989, Toninho e Marcênio viraram sócios de escritório do Tarrachinha e seu irmão Emiliano Giannetti no bairro do Portão, em frente ao Fórum.

Muito trabalho nesta profissão. Muitas habilitações para motoristas, documentação de carros e o inédito recenseamento de estrangeiros na região, feito por ele e Marcênio. Paralelo a isso, fazia trabalho filantrópico nesta área, cuidando da documentação de entidades como A Casa do Sol, Hospital de Cotia (cuidando da documentação de carros e passaportes e vistos dos médicos e profissionais), Cotolengo e igrejas diversas da cidade.

Ainda ajudava, gratuitamente, migrantes nordestinos e moradores de Cotia que não tinham documentos, auxiliando muitos cidadãos a tirar pela primeira vez seus RGs e CPFs.

Autodidata no aprendizado de Leis e Tratados

Uma das qualidades de Toninho era ser autodidata em muitos assuntos. Estudava bastante e não tinha preguiça de ler dezenas de livros de temas variados, como política, leis, tratados internacionais dentre tantos outros.

Aprendeu muito sobre saúde, economia, educação, leis e histórias de presidentes de muitas nações.

Por dominar tantos temas, Toninho era procurado por pessoas em busca de esclarecimentos. Sempre gentil, ele instruía (de graça) a todos, seja funcionário público ou advogado.

As orientações e recursos trabalhistas para muitos profissionais requererem seus direitos eram passadas com muita paciência e dedicação. Advogados o procuravam para redigir e corrigir textos jurídicos antes do início de um processo ou audiência no Fórum.

Um fato curioso sobre o Toninho Despachante é que ele foi o primeiro da região a conhecer e dominar o CBT – Código Brasileiro de Trânsito, orientando despachantes, autoescolas e clientes.

Nos últimos anos, Toninho Despachante vinha atendendo em seu escritório ao lado do Mini Shopping Tiko, sempre com um sorriso e histórias interessantes para quem o procurava. Andava sempre a pé do escritório ao centro de Cotia ou à sua casa na Vila São Francisco e era muito comum (sua marca registrada) o vermos com o guarda chuva na mão (homem prevenido).

Nascido em 8 de julho de 1932, Toninho estava com complicações em sua saúde e veio a falecer no dia 13 de novembro de 2014, aos 82 anos. Foi casado por muitos anos com Maria Aparecida Vaz, a Cida, conhecida por fazer parte do coral da Igreja da Matriz.

Sua filha Maria da Penha Vaz lhe proporcionou dois netos, Felipe e Fernando Vaz de Almeida.

Cumprindo um desejo dele, a família doou centenas de livros da vasta biblioteca de Toninho para a comunidade, que terá acesso à cultura, educação e conhecimentos gerais. Um belo gesto deste cidadão cotiano que deixará muitas saudades.