Heavy Metal brasileiro, muito mais que Sepultura, por Cláudio Magalhães
Muitas pessoas acham que o heavy metal no Brasil começou com o Sepultura e assemelham o som da banda como um único no movimento.
Nos anos 70, o som pesado no Brasil já tinha representantes fortes em todos estados, aqui em São Paulo, o Made in Brazil já desfrutava de um som forte e coeso, assim como a Casa das Máquinas. No sul do país a banda O Peso mostrava que vinham para fortalecer o movimento. Mas o nome heavy metal veio apontar aqui no Brasil, no começo dos anos 80 onde a cena foi se fortalecendo em todos os lugares e a primeira gravação de um disco de metal foi com a banda paraense Stress, logo em seguida tivemos o disco Sweet Revenge, da banda paulista Karisma.
Estes foram os dois pontos fortes da caminhada do metal no Brasil. O grande divisor de água surgiu em 1984 com o lançamento do disco SP Metal, lançado pelo selo Baratos Afins, com as bandas Avenger, Salário Mínimo, Centurias e Virus, seguido pelo SP Metal II, com as bandas Santuário, Performance, Abutre e Korzus.
Com o lançamento da Baratos Afins as portas foram se abrindo e novas bandas surgindo. Pelo próprio selo da Baratos um dos maiores clássicos foi lançado: A Ferro e Fogo, da banda Harppia e deste saiu um dos maiores hinos do heavy metal nacional: Salém, a Cidade das Bruxas. Seguiu-se uma enxurrada de lançamentos: Golpe de Estado, Centúrias, Misto Quente, Platina, A Chave do Sol. Além de outras gravadoras que investiam em suas bandas. Vulcano lançou o Live e foi a primeira banda brasileira a gravar Black Metal com tamanha identidade, pelo selo Lunário Perpétuo.
Em Minas Gerais a cena Black Metal foi muito forte, principalmente pelo lançamento de grandes clássicos pelo Selo Cogumelo e no Rio de Janeiro o grande passo foi um split das bandas Metalmorphose e Dorsal Atlântica, chamado Ultimatum.
O metal foi se espalhando pelo Brasil a fora e as bandas foram criando seus próprios repertórios e botando a cara para bater. Os discos começaram a ser lançados: Antes do Fim (Dorsal Atlântica – RJ); Vingança (Azul Limão – RJ), Século XX/Bestial Devastation (Overdose/sepultura – MG), Flor Atômica (Stress – PA), Na Luz da Conquista (Astaroth – RS). Os shows estavam cada vez mais frequentes e apenas a mídia especializada dava espaço ao movimento metálico, além de publicações como as revistas Rock Brigade, de São Paulo e a Metal, do Rio de Janeiro. A força das bandas estava na troca de material com o público em locais específicos e a divulgação de shows do tipo “faça você mesmo”.
Os fanzines foram parte importante para a divulgação, pois as bandas começaram a ter seus nomes divulgados fora do país e em lançamentos de coletâneas, caso do Viper, Dorsal Atlântica e o próprio Sepultura. Além de mais coletâneas como Metal Rock (RGE – SP/RJ): Made in Brazil, Eclipse, Máscara de Ferro, Di Castro e Atack; São Power (Devil Discos – SP): Aerometal, Sabotagem, Mephisto, Excalibur, Anarca, Avenger, Improviso, Mammoth; Warfare Noise (Cogumelo Records – MG): Chakal, Mutilator, Sarcófago e Holocausto.
No caso dos fanzines o mais importante da época se tornou forte influência mundial nos anos 80 e 90, a Revista Rock Brigade, que tinha em sua redação nosso amigo Eduardo Bonadia; além da loja e selo Woodstock Discos do Walcyr.
Sem contar também a forte influência do Luis Carlos Calanca, da Baratos Afins, um dos nomes mais respeitados do rock pesado no Brasil, junto ao de Celso Barbieri, produtor dos shows nos anos 80 e que hoje tem um site em prol da memória do rock pesado nacional: www.celsobarbieri.co.uk e autor do livro O Livro Negro do Rock. Os pontos de shows aumentaram muito e espaços como Teatro mambembe, Fofinho, Ledslay, Heavy Metal, Lira Paulistana, Teatro Paulo Eiró, Praça do Rock entre tantos outros fizeram este movimento crescer, principalmente no eixo Rio-São Paulo, além de Minas Gerais onde era forte o movimento mais extremo com bandas como, por exemplo, Sarcófago e Chakal. Além destes palcos em São Paulo, devemos lembrar também do Circo Voador e o Caverna no Rio de Janeiro.
Um dos cartões postais do Brasil em relação ao Heavy Metal a Woodstock Discos, situado à Rua Dr. Falcão no centro de São Paulo, onde existia a maior concentração de headbangers por metro quadrado do mundo aos sábados; cito a Woodstock porque a Galeria do Rock havia uma concentração mais geral de todas as tribos roqueiras. O selo Devil discos também foi importante para a divulgação de bandas como Korzus e mais tarde a Rock Brigade se tornaria também selo e em seu cast havia bandas como A Chave do Sol e Vulcano.
As multinacionais na época abriram espaço para duas bandas: Stress (Polygram) e Inox (CBS), mas não vingaram apesar de terem lançados grandes discos. Muitas bandas ainda estão na ativa e se divertem muito com shows sempre cheio de amigos e de lembranças: Salário Mínimo, Centurias, Viper, André Matos, Harppia, Vulcano, Korzus, Fates Prophecy, Golpe de estado, Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Dr Sin, Angra, Metalmorphose, Taurus, Stress, Krisiun… Sepultura
*Cláudio Alexandre Magalhães é escritor, poeta, músico e escreve sobre rock’n roll no Cotia Agora.