Luiz Júnior- Mulher: A Deusa de Mil Faces

8 de Março, Dia Internacional da mulher.

O século XX foi marcado por diversas conquistas das mulheres, como o de votar, de trabalhar e o de estudar. O feminismo surgiu em meados da década de 60, tendo Valerie Solanas como sua maior expressão. Radical, porém, foi perdendo adeptas, e ressurgiu nos anos 90 com novas lideranças interessadas, sobretudo, no equilíbrio e no bem-estar da mulher.

Equilíbrio.

O equilíbrio pressupõe polos opostos em perfeita harmonia. Homem/mulher, macho/fêmea, bem/mal, claro/escuro, quente/frio, úmido/seco. Polos opostos e complementares de uma mesma energia.

Isso não significa que os polos são estanques, fechados em si mesmo. Muito pelo contrário, estes polos se entrelaçam, se misturam e frequentemente estão contidos um no outro. O século XXI vem sendo conhecido como “O Século da Depressão”, e não é à toa. Todos, homens e mulheres, estão vivendo em busca de si mesmos. A crise que atinge o feminino também atinge o masculino. Somos todos dominados pelo Sistema. A esse Sistema damos o nome de Capital, Poder, Dinheiro, Trabalho, Religião, Patriarcado ou qualquer coisa do gênero. Mas uma coisa se torna fundamental: todos, homens e mulheres, somos controlados por algo maior desde o advento do poder, do patriarcado e do mercantilismo.

O cérebro – esta máquina maravilhosa que nos separou do mundo animal e nos colocou no mundo humano – é uma maravilha nova, desconhecida, recente e imperfeita. Isso pode até assustar racionalistas e médicos, mas a realidade é que o corpo humano detém sistemas muito sofisticados de armazenamento e registro de memórias, como o coração. E todos os elementos do corpo humano (incluindo ele, o maravilhoso cérebro) entendem muito melhor os símbolos do que as palavras.

Estes símbolos, diversos em sua essência, formaram egrégoras que tomaram formas nos mitos universais. Os arquétipos nos permeiam em todas as culturas, mas o Sistema tende a nos afastar destes símbolos universais através da padronização e da universalização, do poder do consumo e da interatividade de baixíssima qualidade.

E para as mulheres, sobram arquétipos universais.

Desde as vênus de pedra do paleolítico, com seios, abdomens e órgãos sexuais avantajados – significando três aspectos primordiais da mulher (a alimentação, a procriação e os mistérios da sexualidade), até os mitos das sereias e iaras, que encantam, seduzem e matam, o que não falta na mitologia universal são aspectos femininos. Aspectos que hoje, infelizmente, se perdem nas areias do tempo. E do Sistema.

Começamos a viagem pelos mitos sumérios e a Deusa Ishtar, relacionado ao mistério da fecundidade (posteriormente, quando nós, homens, percebemos que tínhamos participação neste mistério, Ishtar foi associada à Luxúria). Também temos os mitos greco/romanos, como Diana, a caçadora, detentora dos arquétipos femininos e masculinos. Ela basta a si mesma. Ela é sozinha. Ela é independente e guerreira. Há Minerva, a deusa da sabedoria. Nascida sem mãe, da cabeça de Júpiter. Há Vesta, a deusa dos Lares, das lareiras e das famílias. Hera, esposa de Zeus, que tenta de todas as formas preservar seu casamento. Vingativa, impulsiva, por vezes violenta, Hera é o arquétipo da mulher que preserva seu par oposto, que aposta na polaridade proporcionada pelo casamento. Ceres, ou Deméter, filha de Cronos e Réia, deusa dos ciclos (um dos aspectos e mistérios femininos que mais intriga a nós, homens).

Da castração de Urano por seu filho Cronos (ou a limitação da criação pela ordem e pela disciplina) nascerá Afrodite, ou Vênus, a mais bela das deusas. Filha do tempo, filha dos ciclos, filha de Ceres, Perséfone (ou Prosérpina) será a detentora do mistério da passagem, ao se casar com seu par Hades (Plutão) e governar os mistérios do oculto, da morte e do outro mundo.

A mitologia hebraico-cristã também está presente – ainda mais aqui, no ocidente. O concílio de Nicéa, em 333 d.C., eliminou diversas referências femininas da bíblia, e os arquétipos foram todos reduzidos a arquétipos masculinos.

Mas quatro permaneceram.

Eva, a parceira. Maria, a mãe. Maria Madalena, a amante, a esposa fiel (o evangelho apócrifo de Maria Madalena logo será revelado ao mundo, e estas características se confirmarão). E a avó de Jesus, Sant’Anna, a sábia, a mestra. E um arquétipo a mais, que se perdeu nas areias do Tempo – o de Lilith, primeira esposa de Adão, a sedutora independente, que não se curva a ninguém, muito menos ao seu polo oposto – o masculino.

A mulher, portanto, é parceira, mãe, amante, sábia e sedutora. Caçadora, procriadora, misteriosa. Independente.

Tudo isso surgiria nas religiões afro-brasileiras, com a sedutora e perigosa Pombagira; a donzela linda e amável – Oxum; na mãe zelosa, protetora e criadora, Yemanjá; Nos mistérios da passagem guardados por Nanã; pela sapiência do tempo de Logunan. Pela independência da deusa terrível, Iansã.

O mistério do sexo, tão retratado no paleolítico, se revela também nas sereias – mito universal, presente em todas as culturas do mundo. No Brasil, na região norte, é comum o mito da Iara, sereia dos rios, que seduz pobres matutos perdidos nas matas, os levando à perdição. A sereia brasileira, aliás, tem o seu par oposto e complementar, o boto, sedutor irresponsável.

A análise astrológica arquetípica da presença de Marte, Vênus, Saturno e Lua nos revelarão aspectos da polaridade – masculino e feminino. Quatro signos se destacam nesta jornada – os signos cardinais, os masculinos Áries e Capricórnio e os femininos Vênus e Libra.

  • Vênus em Áries nos revela o arquétipo da SEDUTORA – das pombagiras, de Ishtar, das sereias, de Lilith.
  • Vênus em Libra nos revela os segredos da DONZELA – Afrodite, Oxum, Cloto.
  • Marte em Áries nos traz a mulher CAÇADORA – Diana, Iansã – mulheres que se bastam em si mesmo.
  • Marte em Libra nos traz o arquétipo da ESPOSA – Hera, Vesta, Eva, Maria Madalena.
  • Lua em Câncer nos fala do aspecto da MÃE – Yemanjá, Maria, Láquesis.
  • Lua em Capricórnio nos fala da PROVEDORA – Deméter, Ceres.
  • Saturno em Câncer nos trás o aspecto da MÃE SÁBIA – Yemanjá, Maria, Sant’Anna, Átropo, Atenas, Perséfone.
  • Saturno em Capricórnio nos fala da SÁBIA, da AVÓ – Nanã, Sant’Anna, Átropo, Perséfone.

Durante a Jornada do Herói/da Heroína, durante a nossa jornada, a nossa história, quantas vezes você, mulher, assumiu um destes papéis?

E qual papel é o predominante em você?

Quais foram os auxiliares de sua jornada que surgiram? Quantas vezes surgiram uma mãe, uma caçadora, uma sábia, uma sedutora, para ajudar em sua jornada?

Essa é a grande dádiva universal – o conhecimento e a sabedoria que a humanidade nos lega. Mulher, tenha em nós, homens, seus pares complementares, com qualidades arquetípicas próprias. Conheça seus arquétipos, para assim conhecer seu poder e sua liberdade.

Feliz dia das mulheres.

(Luiz Junior é astrólogo, comunicador, colunista e escritor. É autor de O Templo da Magia e de O Livro de Luaror, da série Reinos em Guerra pela Editora Autografia, e de A Dança: uma valsa entre o bem e o mal, pela KDP Amazon; produz o horóscopo diário para o Jornal Cotia Agora e para a Rádio Cotia, além de diversas fan pages da internet, e – com Nathalia Saphyra -, é apresentador do programa Ampliando Horizontes, da Rádio Cotia).