Mauro Calil: Renda Fixa também exige diversificação

No final de 2008 e início de 2009 os investidores, enfim, enxergaram uma alternativa rentável e segura para investir na Bolsa, os Fundos Imobiliários. Eu fui um dos propagadores deste tipo de investimento que, logo depois, se popularizou. Os investidores que nos seguem e, porventura, investiram no início desta propagação, gozam até hoje dos frutos colhidos, mesmo com a queda do valor das cotas. Os rendimentos mensais ainda são muito vantajosos.

Agora quero tratar de outro assunto, a diversificação em Renda Fixa, que também é necessária. Quem já saiu da cadernetinha, quem já deixou de ser “poupanceiro”, conforme venho sugerindo há tempos, já colhe ótimos frutos em LCI, LCA e outros títulos. Porém, como tenho muitos seguidores e, muitos deles também são formadores de opinião, este investimento já se popularizou, e o resultado é que já começamos a enfrentar a falta de lastro de qualidade, ou seja, faltam títulos que nos rendam ao menos 94% do CDI, quanto menos 98% ou 100%.
A saída para isso é diversificar. E neste sentido, lembro de um questionamento que sempre recebo:
– Professor como que os bancos cobram 4, 5 ou 7% ao mês em seus empréstimos e nos remuneram em menos de 1% nas aplicações?

Obviamente que a diferença é lucro bruto da instituição. Ocorre que algumas instituições repassam grande parte deste lucro de forma segura, via Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) com ratings de investment grade e rentabilidades superiores a 100% do CDI já descontado IR, come cotas e taxa de administração. Mais uma vez, como venho alertando recentemente, isso não é ofertado a qualquer um.

Para esclarecer, FIDCs investem seus recursos em carteiras de recebíveis (empréstimos) de operações realizadas em instituições financeiras, indústria, arrendamento mercantil, hipotecas, prestação de serviços e outros títulos admitidos pela CVM. Os FIDCs foram criados com objetivo de dar liquidez ao mercado de crédito, reduzindo o risco e ampliando a oferta de recursos.

O FIDC não é o único caminho para diversificação, mas caso deseje este investimento, a escolha de um bom FIDC envolve a verificação de seu rating, pois este te dará uma ideia da qualidade dos recebíveis e certeza do fluxo, e logo em seguida dê uma olhada na quantidade de cotas subordinadas versus a quantidade de cotas seniores. Rapidamente as cotas subordinadas NÃO são comercializadas e, ficam com os emissores do fundo, sendo as últimas a receber o fluxo dos pagamentos caso ocorram problemas no recebimento.

Se um emissor retém 10% de cotas subordinadas ele “acredita menos” nos fluxos que outro que retém 20%, por exemplo. Saliento que este é somente um exemplo e a expressão “acredita menos” fica entre aspas. Na prática, um FIDC com 20% de cotas subordinadas poderia ter uma quebra de até 20% nos recebimentos que o investidor não seria prejudicado. Entendeu a sutileza?

Já o grau de investimento das agências de rating começa em Baa3 para Moody’s, e BBB- para S&P e Fitch.
De posse das informações, que tal diversificar e turbinar ainda mais seus investimentos em Renda Fixa, tornando mais segura a travessia para os difíceis tempos que virão?mauro calil1

*O professor Mauro Calil é especialista em investimentos no Banco Ourinvest. É também palestrante e autor dos livros “Receita do bolo” e “Separe uma verba para ser feliz” e proprietário da Academia do Dinheiro, instituição especializada em cursos de educação financeira e finanças. Possui mestrado pela USP e Pós Graduação em Marketing pela ESPM e certificado pela ANBIMA como CEA. Escreve quinzenalmente no Cotia Agora