Psicanalista Kelly Occaso: Setembro Amarelo e a invisibilidade dos que sofrem
Encarar a realidade da vida pode ser muito angustiante. A fantasia de um mundo perfeito pode ruir da noite para o dia. A dor emocional não escolhe classe social, gênero, crença, idade ou etnia. Ela atravessa todas as barreiras culturais e sociais, afetando tanto os mais privilegiados quanto os mais vulneráveis.
É uma experiência humana universal e pode se manifestar com muita intensidade em qualquer momento da vida. Todo ser humano pode ser atingido por sentimentos de angústia, tristeza, solidão, ansiedade ou desespero. Para muitos esses sentimentos passam, para outros não, se não tiverem ajuda.
Como psicanalista, meu dia a dia é repleto de histórias de pessoas que, diante do sofrimento, viram como única solução possível colocar um fim na vida. As tentativas falharam. A dor de não mais sentir a vida, de ver um mundo cinza e sem graça o tempo todo, de não conseguir amar e se sentir amado, de não estar presente. Como um teatro, onde o protagonista da vida colapsa, esvaziam o palco, o público vai embora e as cortinas se fecham. Não restou nada, além de alguém invisível. Poucos se solidarizam, outros criticam, a maioria simplesmente esquece. E ainda viva, aquela pessoa se torna apenas alguém que um dia foi.
Diante de tamanho sofrimento, a melhor decisão é procurar ajuda. Ajuda de pessoas estimadas, mas principalmente, de profissionais da saúde mental.
Existem muitos profissionais preparados e de braços abertos para acolherem as dores da alma. Tanto na rede pública, através dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), UBS (Unidades Básicas de Saúde), Unidades de Pronto Atendimento e na Rede Privada. Além das instituições de formação na área de saúde mental que oferecem atendimento social. Dentre tantas outras frentes de valorização à vida.
Setembro Amarelo nos convoca a refletir sobre a prevenção ao suicídio. É hora de olhar para as os “invisíveis” que não suportam tanta dor emocional. A OMS – Organização Mundial da Saúde destacou que o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média, 38 pessoas cometem suicídio por dia.
O tema não pode mais ser tratado como um tabu. Ter pensamentos de morte está longe de ser coisa de gente fraca, ociosa, sem fé ou “louca”. Pode acontecer com qualquer um de nós e com aqueles que estão ao nosso redor. Enxergar a beleza da vida, seus aromas, suas cores e alegrias é um exercício diário de manutenção da nossa existência. Se o sofrimento é inerente ao ser humano, a alegria de viver também o é. A vida de cada um é importante para si próprio e para alguém. São nas pequenas atitudes, gestos e sorrisos que nos conectamos com a nossa essência de vida. Cultivar isso faz parte do processo.
Gosto de chamar o Setembro Amarelo do mês de valorização da vida! Dias cinzas sempre virão, mas, assim como os girassóis têm a certeza de que o sol vai voltar a brilhar, nós também precisamos continuar a caminhada.
Você não está sozinho! Sua vida importa!
Falar é sempre a melhor opção.
Kelly Occaso – Psicanalista Clínica Fundadora do Espaço Asas Psicanálise.
Fotógrafa: Vanilde Abreu