Gabriela Uchôa estreia coluna. DROGAS: tão perto e tão longe.

O tema “drogas” tem sido bastante ouvido por aí. Está nos jornais, nas revistas, nos noticiários da TV, nas novelas… Todo mundo já ouviu falar. A maioria de nós já passou perto de um usuário na rua; ou sabe de alguém, um vizinho, um colega de trabalho ou mesmo um familiar distante que enfrenta esta situação. O fato é que a gente não se interessa por um problema e não se aproxima dele até que este chegue perto o bastante pra nos tirar o sono.

O fenômeno da dependência química tomou dimensões de extrema gravidade. Muito se discute sobre políticas e ações de prevenção e tratamento; mas ainda falta informação! O que é dependência química? Como ela se instala? O que fazer diante dela? Onde buscar ajuda?

O mais importante a saber é que a dependência química é uma doença entendida como crônica. E que o vício, antes de se tornar vício, geralmente é um hábito daqueles que a gente repete sem perceber até ficar impossível de controlar. A maioria dos dependentes não percebe o vício se instalando, e tem a ilusão de que consegue controlar aquele velho hábito.

A droga causa uma sensação de prazer tremenda, o que faz com que a frequência e a dose de uso aumentem gradativamente levando o usuário a estabelecer uma relação doentia com a substância, rompendo todos os vínculos sociais podendo chegar à marginalização e ao isolamento.

Ao deparar-se com o problema de perto, as pessoas não sabem como lidar e são tomadas pela angústia, medo, vergonha, desespero… Preferem esconder e vão tentando resolver a situação sem ajuda ou com a primeira “solução” que aparecer, para evitar exposição maior. Isso muitas vezes leva ao tratamento tardio ou inadequado, o que acaba provocando o agravamento da doença e de seus sintomas. Como diz o ditado: “para vencer a guerra é preciso conhecer o inimigo”! Portanto é importante buscar orientação de profissionais especializados que vão fazer um diagnóstico correto e indicar a melhor forma de tratamento e de manejo da situação, de acordo com cada caso.

Dúvidas frequentes:

Se a Dependência Química é uma doença, então o usuário não tem culpa? Ele é uma vítima da doença?

No tratamento da DQ, não falamos em culpa, e sim em responsabilidade. É claro que ninguém é culpado por portar qualquer doença. Porém, se eu tenho uma doença, conheço seus sintomas e fui orientado sobre como devo me tratar; sou responsável pela minha recuperação e pela manutenção do meu tratamento. O dependente químico (não intoxicado) é capaz de escolher!

É verdade que não existe cura para a DQ?

Depende daquilo que se entende por “cura”. Diz-se que não há cura, pois um dependente químico, mesmo há bastante tempo sem usar drogas, jamais poderá voltar a usar de maneira controlada. Não existe “ex-dependente químico”. Agora, se você entende a cura como o retorno a uma vida “normal”, saudável, sem manifestação dos sintomas agudos e sem o uso de substâncias químicas; esta cura sim é possível!

Conheço pessoas que usam drogas ou bebem em excesso, mas que param quando querem. É possível um dependente parar de usar quando quer?

Assim como há diferenças entre os tipos de drogas e seus efeitos, há também diferença entre os tipos de usuários. Um usuário não é necessariamente um dependente. Pode experimentar, ou usar abusivamente, por algum motivo em situações determinadas, mas ainda existe um limite. O que caracteriza o dependente é a perda do controle, a ausência de um motivo único (tudo é motivo para usar) e a quantidade de prejuízos devido ao uso. São prejuízos sociais, afetivos, psicológicos, físicos, profissionais, financeiros, etc. O dependente pode até querer parar, mas não consegue sozinho. É importante ressaltar que o usuário abusivo pode tornar-se um dependente e que há tratamento preventivo para estes casos.

Meu problema não é com drogas, e sim com o álcool…

Nem precisa terminar a pergunta. O álcool é uma substância química assim como todas as outras. O que muda é o efeito. O efeito que a cocaína causa, por exemplo, é bem diferente do efeito do álcool, que é diferente do efeito da maconha, etc. Mas a doença é a mesma. O álcool causa dependência e de acordo com pesquisas recentes é a principal “porta de entrada” para o uso de outras substâncias, mais do que a maconha. O alcoolismo é banalizado por se tratar de uma droga lícita, mas é tão grave quanto a dependência das outras substâncias e merece atenção especial.

Como é o tratamento?

Por se tratar de uma doença que não tem causa única e que atinge diversos aspectos da vida da pessoa, o tratamento que hoje tem sucesso é aquele que segue modelo multiprofissional. É de fundamental importância um acompanhamento clínico, psiquiátrico, psicológico e social. O tratamento pode ser em regime ambulatorial ou em regime de internação, de acordo com a gravidade do caso. A internação é indicada para aqueles que não conseguem fazer intervalos no uso de e assim não conseguem cumprir com a responsabilidade do tratamento em ambulatório. O tratamento em regime ambulatorial é indicado para aqueles que conseguem fazer interrupções no uso, e assim responsabilizarem-se pelo compromisso com o tratamento; ou como forma de manutenção, dando continuidade ao tratamento pós-internação. Na escolha de qualquer centro de tratamento, vale checar detalhes importantes como a existência de um profissional técnico responsável pela instituição, alvará de funcionamento válido da Vigilância Sanitária, registro no CREMESP, parceria com o SENAD ou outros órgãos de referência na área, convênios com planos de saúde, secretarias, prefeituras etc.

*Gabriela Uchôa – Psicóloga – Universidade Presbiteriana Mackenzie – Especialista em Dependência Química- GREA/USP – Coordenadora Terapêutica da Sagrada Família Recuperação e Integração Social em Vargem Grande Paulista –SP, instituição referência no tratamento de dependentes químicos.

Contato: [email protected]

Um comentário em “Gabriela Uchôa estreia coluna. DROGAS: tão perto e tão longe.

  • 04/03/2015 em 09:06
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    Excelente e bem esclarecedor, poderia ter mais publicações com um tema tão atual.

    Parabéns!
    Eva Paulino

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