Cientistas associam origens da pandemia de covid-19 a cães-guaxinins da China

A origem da pandemia de covid-19 é alvo de estudos ao longo dos últimos três anos pela comunidade científica e pela OMS – Organização Mundial da Saúde.

Entre as hipóteses de como o coronavírus passou a infectar humanos estão a transmissão direta de animais para humanos, a introdução do vírus através de um hospedeiro intermediário, na cadeia alimentar ou através de um incidente de laboratório.

As teorias que buscam explicar as origens do vírus ganharam um novo elemento. Um grupo internacional de pesquisadores afirmam que dados genéticos apontam que o início da pandemia pode estar associado a cães-guaxinins comercializados no mercado em Wuhan, na China.

Contexto
O surgimento do SARS-CoV-2 foi observado pela primeira vez quando casos de pneumonia de causa desconhecida foram detectados na cidade de Wuhan.

Durante as primeiras semanas da epidemia em Wuhan, observou-se uma associação entre os primeiros casos e o mercado atacadista de frutos do mar de Wuhan “Huanan”. Os casos foram relatados principalmente em trabalhadores e vendedores do local. Autoridades fecharam o mercado em 1º de janeiro de 2020 para saneamento e desinfecção ambiental.

O mercado, que vendia predominantemente produtos aquáticos e frutos do mar, bem como alguns itens de animais silvestres de criação, foi inicialmente suspeito de ser o epicentro da epidemia, sugerindo um evento na interface homem-animal. Investigações retrospectivas identificaram casos adicionais com início da doença em dezembro de 2019, e nem todos os casos iniciais relataram uma associação com o mercado de Huanan.

O comportamento humano, como a invasão e destruição de habitats naturais das espécies, o consumo de animais silvestres, a falta de protocolos de higiene e as mudanças climáticas estão entre os principais fatores que favorecem o surgimento de surtos, epidemias e, em última escala, de uma pandemia.

A proximidade com áreas de preservação permite o contato com agentes causadores de doenças que, até então, não tinham infectado humanos. Nesse contexto, há um fenômeno conhecido tecnicamente como spillover – ou transbordamento em tradução livre, que se refere à adaptação de um microrganismo, como um vírus, para ir de um hospedeiro para outro.

Descobertas
Uma nova análise de sequências genéticas coletadas no mercado chinês mostra que cães-guaxinins vendidos ilegalmente no local podem carregar e possivelmente espalhar o vírus desde o final de 2019. As descobertas recentes foram relatadas pela revista Atlantic. Para os especialistas, a pandemia pode ter origem natural, e não um vazamento de laboratório, quando o coronavírus se adaptou, passando dos animais para humanos.

De acordo com o artigo publicado na Atlantic, o estudo teve como ponto de partida sequências genéticas de amostras coletadas na região das bancas do mercado de Wuhan no início da pandemia. Os primeiros dados brutos disponibilizados a pesquisadores fora da China foram publicados no banco de dados internacional Gisaid por especialistas afiliados ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China. Cientistas da Europa, América do Norte e Austrália identificaram as sequências e iniciaram uma análise.

O estudo liderado por Kristian Andersen, Edward Holmes e Michael Worobey aponta que as amostras identificadas na região do mercado continham material genético animal, incluindo conteúdo compatível com o do cão-guaxinim.

Considerando as características dos vírus, que não permanecem isoladamente no ambiente, os cientistas apontaram a hipótese de que cães-guaxinins poderiam ter sido infectados pelo coronavírus na área do mercado. No entanto, segundo os pesquisadores, a identificação do material genético do vírus e do mamífero intimamente misturados são apenas um indício da participação animal no contexto epidemiológico do surgimento da pandemia.

Por Lucas Rocha (CNN) – Foto: Dario Argenti (Getty Images)