Circo Moscou, há 162 anos divertindo adultos e crianças esteve em Cotia

Você sabia? Comemora-se em 27 de março o Dia do Circo. É uma homenagem ao palhaço Piolin que nasceu nesta data, no ano de 1897.

Há quem diga que o circo é um encontro de encanto, magia e sonho. Ele faz a alegria não só das crianças, como também dos adultos. O circo necessita inovar, superar limites, para que o público não perca o interesse pelo espetáculo. E é assim a vida dos integrantes do Circo Moscou, que existe há 162 anos e está em Cotia para mostrar suas atrações.

Estivemos na quinta-feira passada para bater um papo com alguns artistas e com o dono do circo. Foram horas agradáveis de histórias de vida, dedicação e amor à arte circense. No sábado, fomos conferir o espetáculo. Foram quase duas horas de risos e suspiros por parte da plateia que compareceu. Crianças e adultos se entusiasmaram com as peripécias do palhaço Sacolé, dos acrobatas Gilberto, Dimitri, Vivi, Paulinho, entre outros, além da finalização do espetáculo com o Globo da Morte.

Há 162 anos divertindo

Logo que chegamos ao circo, quem contou um pouco da história é Daiane Monteiro, filha do atual dono e 7ª geração da família circense do Moscou. O circo teve origem em Minas Gerais em 1848, com uma família de artistas regionais.

Quem nos conta um pouco da trajetória do Moscou é Jorge Fumagalli, dono do circo. Fumagalli tem 60 anos de vida no circo. Diz que aprendeu de criança a fazer de tudo, desde as pequenas acrobacias e saltos quando ainda era um menino, manutenção, montagem e a administração geral.

Ele se lembra da infância no circo e do trabalho árduo de seu pai. No passado, em muitos lugares que o circo se apresentava, não havia energia elétrica e o pai de Fumagalli pegava bambus com pano umedecido em querosene e assim era a iluminação do circo. Todo o transporte da estrutura era feita com carro de boi. “A gente levava muitos dias para chegar de um local para outro, era bem mais difícil, mas compensador”, diz ele.

Outro fato do passado lembrado por ele é que o pai saia anunciar o circo pelas cidades com um megafone, falando das atrações, como o urubu que tocava violão, o cachorro que cantava e por aí vai.

A história do urubu é bem engraçada: O pai de Fumagalli colocava tripas nas cordas do violão e o urubu ao tentar comê-las, acabava tirando algum som do instrumento. O cachorro cantor uivava ao som de uma gaita.

Fumagalli lembra que Chitãozinho e Xororó, Leonardo, Gretchen entre outros, cresceram e se apresentaram diversas vezes em seu circo no início de carreira. “Tenho uma foto do cantor Zé Ramalho com minha filha no colo. Ele sempre nos visitava”, conta orgulhoso.
Tem saudades do circo-teatro, onde os atores apresentavam peças como A Paixão de Cristo. Tudo isso são lembranças de uma época romântica do circo. As dificuldades eram muitas, que a família de Fumagalli sempre soube superar.

Aliás, a família dele sempre foi do circo. Apenas um irmão, que trabalhava com eles, ao casar-se com uma advogada, mudou de ramo, mas sempre que pode, faz uma visita aos ex companheiros desta arte. O pai de Fumagalli era o conhecido palhaço Xuxu, que ganhou prêmios no passado.

Fumagalli tem filhos que estão viajando pelo Brasil com outros circos. A filha Daiane também atua no Moscou, fazendo malabares e até uma neta segue a carreira circense, tendo, inclusive, conquistado um prêmio no Domingão do Faustão. Um dos atores que encarnaram o palhaço Bozo, Luís Ricardo, é sobrinho de Fumagalli.

Hoje, após a proibição de animais, os circos tiveram que aumentar o número de atrações e artistas para substituir os bichos.
Fumagalli diz que tem muitas histórias e que não caberiam em um livro. Mágoas? Não. Mas acha que o circo poderia ter incentivos do governo, como o uso da Lei Rouanet, que privilegia tantos artistas que não fazem bom uso da verba recebida, mas não beneficia os circos do país.

Paulinho, o acrobata

Paulinho tem 45 anos de vida no circo. É a 4ª geração da família em circos. Já trabalhou em vários, como o Roma, Circo D’Itália e Beto Carrero. De fala rápida, ele conta com orgulho que é um dos poucos no país que faz acrobacias sem estar amarrado em nenhum dispositivo de segurança. Não há cabos e redes para protegê-lo. Tudo é uma questão de equilíbrio. Ele é um aramista. Anda em um arame inclinado a 180° e finaliza descendo de peito. Outro número apresentado por Paulinho é o trapézio de cabeça, onde se mostra de cabeça para baixo, sem nenhuma proteção. É pura concentração e equilíbrio.

Tombos?: “Caí algumas vezes no passado, quebrei uns ossos, mas aprendi a me concentrar melhor, é meu equilíbrio e Deus”, diz o sorridente artista.

Paulinho se lembra do passado no circo. As coberturas não eram de lona, mas de zinco. Faz de tudo lá, é o carreteiro, que transporta toda a estrutura de uma cidade para outra, já se apresentou duas vezes no Show de Calouros, do Silvio Santos e conta com orgulho que um dos filhos mora na Dinamarca e é globista, ou seja, pilota a moto do Globo da Morte. Uma filha mora no Rio de Janeiro e também trabalha em circo.

Gilberto e Dimitri

Gilberto é paranaense de Cascavel, mas está em São Paulo há alguns anos e tem 15 de circo. Já trabalhou no Beto Carrero e viajou por países como Argentina, Bolívia, Uruguai e até a Arábia Saudita.
Faz alguns números solo e em companhia do irmão Dimitri, em um mastro de seis metros de altura, pratica diversas acrobacias. Em um número se veste de índio, o Urutan.

“É preciso inovar e criar sempre novas atrações, para poder atrair o público, principalmente a criança, que prefere ficar num computador ou ir ao cinema, do que vir ao circo”, conta Gilberto.

Ambos são de família circense. Um tio deles ajudou a fundar o circo de Beto Carrero e trabalhou no Circo Spacial, entre outros. “Artista de circo não fica desempregado, tem emprego para todos”, diz Gilberto, ao ser questionado se dá para viver só desta arte. Como se apresenta de quinta a domingo no Moscou, nos outros dias da semana faz alguns bicos.

Fágner, o palhaço Sacolé

Uma das maiores atrações esperadas pelas crianças em um circo é o palhaço. No Circo Moscou, o palhaço é o Sacolé, que entra no picadeiro por diversas vezes, sempre com uma roupa diferente e atuações idem. Brinca com o público, principalmente as crianças. Cria suas performances de forma que possa interagir com o público e é comum chamar alguém da plateia para participar de seus números.

Fágner veio para o circo depois de atuar na música e no teatro. Está há cinco anos e pensa em projetos maiores na carreira. Mesmo sem estar com a pintura no rosto, sempre está alegre e fazendo alguma piadinha. Em um número, o do barbeiro, tem o apoio de Anderson, que chegou há pouco tempo no circo, mas é de família circense, com passagens pelo Beto Carrero.

Vivi Dias, equilíbrio acima de tudo

A linda morena da região do ABC, Vivi, tem uma carreira de cinco anos no circo. É atriz e veio do teatro. “Vim para o circo, fui gostando e fiquei”, diz a sempre sorridente artista.
Faz suas performances no rola-rola, que é o equilíbrio de uma prancha sobre rodas, um número difícil, verdadeira demonstração de equilíbrio e concentração, em que tudo neste espetáculo depende dela, da sua força. É um número perigoso, onde mãos, corpo e cabeça devem estar firmes, pois a vida está em risco. Participa de outras atrações no circo. Tem um filho de três anos, Arthur, que pelo visto, está encaminhado na vida circense.

A vida no circo não é nada fácil. É necessário superar todos os problemas existentes e com o abrir das cortinas, o sorriso também é necessário aparecer. A cada dia um novo público, e depois outras cidades.

Para estes artistas o circo significa mais do que uma forma de viver, é amor. Não trocariam esta vida por nada. Que o circo possa continuar a nos encantar com o mundo de sonhos, onde as luzes acendem, as cortinas se abrem e a fantasia acontece.

Por Beto Kodiak – Repórter