Coluna de Lucio Cândido Rosa: Cremação – À Luz do Espiritismo

É fato, que todos nós um dia teremos que desencarnar. Quando isso acontecer, haverá naturalmente o sepultamento do corpo, que poderá ser efetuado de duas maneiras:
A inumação – sepultamento feito em campas ou tumbas, geralmente em um cemitério;
A cremação – que é o ato de queimar o corpo reduzindo-o a cinzas, que em seguida serão colocadas em uma urna e entregue à família. Esta, por sua vez, dará a destinação final a elas.

O processo da cremação é bastante antigo, pois desde os tempos mais remotos, era praticado pelos povos primitivos.
Contudo, a cremação vem ganhando cada vez mais adeptos, e por isso parece algo moderno, mas na verdade é um dos processos mais antigos praticados pelo homem.

Surgiu na Idade da Pedra, em grande parte da Europa, por ser uma prática higiênica.
Foi efetuada no início do Cristianismo, e durante muito tempo foi o método mais utilizado pelas civilizações.
Antes da era cristã, acreditava-se que o fogo tinha o poder de purificação, e contribuía para proteger os corpos contra os maus espíritos. Assim, era considerado um ritual sagrado, proibido aos suicidas, crianças que ainda não tinham dentição, e pessoas atingidas por relâmpagos, pois acreditavam que essas coisas contaminavam o fogo.

O ritual, constituía-se em uma composição em feixe de madeira, sobre o qual o corpo ficava suspenso sobre as chamas do fogo que o incinerava.
Hoje, há técnicas mais modernas, cuja cremação não emite mais fumaça, pois o que sai da chaminé é vapor de água.
Essa prática ficou esquecida até 1876, quando em Washington, no Estados Unidos da América, foi estabelecido o primeiro forno crematório, provocando polêmicas e controvérsias, principalmente pela Igreja, que se posicionou contra a destruição do corpo.

Já, nos países orientais, a cremação sempre foi considerada uma prática normal.
Só em 1963, com a propagação do processo em diversos países, o Vaticano, através do Papa Paulo VI, apresentou uma pequena abertura, não a proibindo, mas ainda recomendando o sepultamento por inumação.

No Brasil, o primeiro forno crematório para a destinação do corpo após a morte, surgiu em 1979, em São Paulo.
Foi somente a partir de 2008, que praticamente todos os estados brasileiros passaram a ter pelo menos um crematório.
Mediante tudo isso, muitas pessoas fazem as seguintes perguntas: O espírito desencarnado sofre, quando o corpo está sendo cremado? Por que as pessoas estão cada vez mais aderindo à cremação? Em que o Espiritismo pode nos orientar ou esclarecer?

Uma pessoa é declarada oficialmente morta, no momento em que cessam todas as funções vitais.
Após essa constatação, muitas delas preferem a cremação, por considerarem mais barato, já que não precisarão comprar e gastar com da manutenção do túmulo.

Como cada indivíduo recebe a herança social e religiosa cultivadas pelas gerações anteriores, cabe aos membros da família cumprirem os ritos tradicionais até o seu sepultamento.
Segundo a Doutrina dos Espíritos, a cremação nada tem de prejudicial ao Espírito, visto que apenas o corpo físico é consumido pelo fogo, depois de observado os trâmites legais para o ato, e o tempo de espera, que varia de 24 a 72 horas, em média.

O processo de desligamento do Espírito em relação ao corpo físico, tem início algum tempo antes do suspiro final, e se faz gradualmente.
Nunca é uma separação brusca, pois se assemelha à união do Espírito ao corpo, no momento da encarnação, que se opera célula a célula.
Na verdade, o corpo sem vida orgânica, não transmite nenhuma sensação física ao Espírito, e qualquer reflexo que ele sinta em razão da cremação, será de ordem moral e não material.
Alguns Espíritos ficam mais tempo “ligados” ao corpo que deixaram, muitas vezes acompanhando, até mesmo o processo de sua decomposição.

Mas, o liame é apenas mental e não físico, de sorte que, qualquer sensação que lhes advenha daí só pode ser moral ou psíquica, como já constatamos anteriormente.
Por isso, torna-se fundamental a preparação para a morte, como faziam os antigos egípcios, desde o nascimento do ser.
É necessário um esforço de auto renovação, assim como, a prática desinteressada do bem.

Além disso, um certo arrebatamento psíquico e um decidido desapego antecipado dos laços materiais, serão essenciais no momento da opção pela cremação, deixando de haver dúvidas quanto ao que se deve fazer com o corpo após a morte.
Podemos dizer que o desencarne é o momento de liberdade para o Espírito, que volta à sua pátria espiritual. Os traumas resultantes, serão contornados com o passar do tempo, e ele voltará no momento oportuno, para um novo corpo, e dará continuidade a sua elevação espiritual.

Kardec diz que o homem não tem medo da morte, mas da transição.
Por tudo isso, quanto mais nos esforçamos para melhorarmos moralmente e espiritualmente, menos sofrimentos teremos nessa hora da transição. E, a forma final da destinação de nosso corpo, seja por inumação ou cremação, não terá tanta importância, pois de um jeito ou de outro, o Espírito sentirá essa mudança, mas terá amparo de nossos amigos Espirituais.

Muita paz!

* Lucio Cândido Rosa escreve quinzenalmente sobre espiritismo e espiritualidade no Jornal Cotia Agora. Quer enviar sugestão de algum tema para que ele aborde? Envie para o email [email protected]