“Viemos Para Servir”. Por Beatriz Tavares de Souza

O ano vocacional 2023 foi celebrado de 20 de novembro de 2022 à 26 de novembro de 2023.

Mas, o que é ou o que significa vocação?
Eu entendo-a por uma disposição natural e espontânea de uma pessoa orientada, designada por algo maior, no sentido de exercer uma atividade, uma função ou profissão. Pode-se definir, portanto, e, também, como um chamado, um convite, ou seja, um apelo da parte de Deus. Uma relação, esta, entre Deus e o homem, que propicia uma inclinação, uma tendência, uma habilidade, enfim, associada ao que Ele escolhe para cada pessoa servir.
No bojo do ciclo de convivência social, observa-se os escolhidos: uns para serem advogados, outros para professores, engenheiros, cientistas, médicos… homens e mulheres, no intuito de servir à humanidade na sua defesa, no ensinar, no construir, reparar, consertar ou descobrir, curar e, ao passo que para os religiosos, a vocação consiste tão somente em ficar à disposição de servir a igreja.

Ao findar o ano litúrgico, não pude deixar de me lembrar que, desde a minha tenra idade, passaram por mim muitas vidas de religiosos e religiosas me ensinando a conhecer Deus, por meio, do respeito, da tolerância, da compreensão e do amor ao próximo. Vi, assisti, aprendi tudo isso com base nos preceitos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Muitas lembranças me marcaram e permanecem até hoje. Aos meus 70 anos, lembro-me de um padre que foi designado a servir na minha cidade do interior de São Paulo, mas, quando chegou, deparou-se com uma igreja vazia, um povo desanimado, desmotivado sem orientação sacerdotal. Esse padre, dentre tantas lembranças, me lembro dele sair com uma sineta pelas ruas, arrebanhando as crianças para ir participar da Santa Missa. As mães, então, deixavam seus filhos arrumados e quando eles ouviam o soar do pequeno sino, de pronto, corriam para acompanhar o padre cantando com aquela multidão de criança. Ah, sim, eu também estava lá, entre elas. Em pouco tempo, viu-se um povo mais animado, um templo lotado e, assim, com a força de um religioso movido sob o Santo Espírito, o ruim tornou-se bom. Tudo foi mudado.
Os anos se passaram.

Em meados dos anos 90, vi, aqui, na Paróquia Santo Antônio da Granja Viana acontecer algo semelhante. Um padre vocacionado para servir, chegou e, tal como o da minha infância, encontrou uma igreja precisando de novos horizontes, novos caminhos, ou seja, de um outro rumo. Padre Antônio Sagrado Bogaz, ainda jovem, ao substituir o antigo Pároco Pe Tarcísio, fez a Igreja Matriz e suas 11 comunidades, se interagir. Conseguiu estabelecer serviços, distribuindo tarefas sem divisões, sem fronteiras, mas, para isso se concretizar, fez como Jesus fez na escolha de seus apóstolos; escolheu pessoas sem distinção de raça, classe social ou cor. Uniu os paroquianos para trabalhar com pastorais: a Pastoral da Saúde (aqui, incluindo os Ministros da Eucaristia), da Criança, da Catequese etc. Bogaz sempre pensando nos irmãos desfavorecidos, cria-se, então, a distribuição de sopa nas comunidades, como estas localizadas no Km 21: a do Cristo, Santa Maria I, Santa Maria II, comunidade do Chiclete, em que os ministros levavam a sopa pronta, sem se esquecer de mencionar, que era feita pela turma lá da Casa de Apoio, comandada pela saudosa Dona Irene. As mudanças foram perceptíveis e permanecem até hoje, pois, não contente, desenvolveu o Natal Solidário, sim, este mesmo que você todo ano ouve falar.

Nisso, me faz refletir que há leigos, religiosos e religiosas vocacionados empenhados em cumprir sua tarefa dada por Deus, e, nem mais, nem menos, do que os outros, aos olhos do Criador, todos brilham e se destacam na execução de seus serviços. Padre Pedro, por exemplo, entre tantas atribuições ao seu legado, se destacou pelo seu empenho e empreendedorismo, da sua capacidade de identificar e solucionar o problema de construir um novo templo para abrigar seu povo, sua igreja. Padre Márcio, teve o seu brilho na formação de coroinhas, acólitos para celebração da liturgia.

O vocacionado, religioso ou não, vem para servir, desse modo, vai para onde necessita-se dos seus serviços. Pe Bogaz saiu da Paróquia Santo Antônio à serviço de outros irmãos, foi para onde deveria ir. Agora voltou, porque foi preciso voltar. Os paroquianos que o ajudaram a estruturar o novo, digamos, a nova logística paroquial daquele início, ficaram eufóricos com sua volta, no entanto, é compreensível que muitos, por não o conhecer, ainda não se acostumaram com a maneira dele agir. Talvez ainda não perceberam que Padre Antônio Bogaz, é espontâneo, é fiel aos seus desígnios, quando durante a homilia, sai do púlpito para ir ao encontro do outro, para falar no meio do povo. Penso: não fora assim que Jesus fez? Aliás, essa marca gravou na memória de muitos jovens/crianças de antes, adultos de hoje. Quer um exemplo? Aos 42 anos, meu filho certa vez comentou: “o que marcou na minha infância era ir à missa e o Padre Bogaz fazer homilia no meio do povo. ” Legal, não é? Tal como o padre da minha infância, que fez perpetuar na minha memória a sua saída do conforto da igreja, de sineta na mão, em busca de suas ovelhas, pelas ruas do seu povo.

Fico imaginando como seria a dificuldade de realizar a construção de uma nova matriz, se não tivesse tido o empenho do outro em interagir as comunidades num bem comum, ou, como seria a formação de catequistas, coroinhas, acólitos e as celebrações litúrgicas numa capela tão pequena, como a nossa antiga de Santo Antônio. Portanto, é como àquele símbolo criado pelo saudoso Padre Toninho: um tijolo. Posto isso, entende-se que somos um tijolo formador de alicerces para construção de um mundo novo.

Como leiga e vocacionada, além do pequeno tijolo que sou, me vejo observando e tentando compreender a incompreensão de alguns irmãos membros da nossa igreja. No entanto, me lembrei de Cristo. Ele, o maior sacerdote por acaso não foi incompreendido?
Assim, o cunho desse texto se fez para transformá-lo em uma alavanca composta de carinho, respeito e gratidão ao nosso atual pároco. Força, e que Deus te abençoe muito Padre Bogaz! Que Deus cuide de todos nós, para que possamos cuidar um dos outros.

*Beatriz Tavares de Souza. Foi Ministra da Eucaristia e catequista na primeira gestão do Padre Bogaz. Atualmente faz parte do Ministério de Música.