Coluna de Paulo Caetano. Carros Voadores e o Desafio da Regulamentação: O Futuro já decolou, mas pode pousar?
Imagine sair de casa, subir num veículo do tamanho de um carro e, em poucos minutos, sobrevoar o trânsito engarrafado da cidade até o trabalho. Parece cena de filme futurista? Pois essa realidade está mais próxima do que muita gente imagina. Os chamados “carros voadores”, que tecnicamente fazem parte da família dos EVTOLs (aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical), já estão sendo testados no mundo todo, e o Brasil não está totalmente fora dessa corrida.
Mas se a tecnologia já existe, por que ainda não vemos esses veículos cruzando os céus das grandes cidades? A resposta pode ser resumida em uma palavra: regulamentação.
O que é, afinal, um carro voador?
O nome “carro voador” é uma forma popular (e um pouco fantasiosa) de se referir aos EVTOLs voltados para uso pessoal. Eles lembram drones gigantes ou pequenos helicópteros elétricos, geralmente com múltiplos rotores, e são projetados para serem simples de operar, alguns até prometem voar de forma autônoma, sem piloto.
O céu não é o limite, mas o espaço aéreo ainda é…
Antes de imaginarmos uma frota de carros voadores circulando pelo bairro, é preciso entender que o espaço aéreo é um ambiente controlado. Cada aeronave, por menor que seja, precisa seguir regras rígidas para garantir a segurança de todos.
Atualmente, o espaço urbano não está preparado para receber esse tipo de tráfego misto de aviões, helicópteros, drones e agora EVTOLs.
Além disso, faltam vertiportos (locais de pouso e decolagem), infraestrutura de recarga elétrica, e um sistema de controle de tráfego aéreo urbano compatível com centenas de veículos simultâneos voando a baixa altura.
E a legislação brasileira?
No Brasil, a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) ainda está estudando como enquadrar os eVTOLs dentro das regras existentes. Hoje, qualquer aeronave precisa ser certificada, ou seja, passar por um rigoroso processo técnico e documental para garantir que é segura para voar.
Mas e quando o veículo é elétrico, com piloto automático e voltado para um cidadão comum, e não para um piloto profissional? As regras mudam? Pois é, esse é um dos grandes desafios.
Quem pode pilotar um carro voador?
Essa é outra pergunta que ainda não tem resposta definitiva. Algumas empresas prometem veículos tão simples de operar quanto um videogame. Outras defendem que, pelo menos nos primeiros anos, só pilotos treinados poderão assumir os controles. E se o voo for 100% autônomo? A responsabilidade muda: passa do piloto para o fabricante ou para o operador do sistema.
O que vem pela frente?
Empresas como Eve Air Mobility (ligada à Embraer) estão apostando forte na mobilidade aérea urbana, com foco inicial em táxis aéreos, mas com olhos no futuro de uso pessoal. Países como os Emirados Árabes e a China já aprovaram voos experimentais de EVTOLs. A tecnologia está pronta, mas o mundo ainda precisa de leis, regras e estruturas físicas para que ela possa decolar com segurança.
A Gohobby, a principal distribuidora de drones na América Latina e a primeira empresa a trazer um carro voador para o Brasil, completou o primeiro voo do EH216 eVTOL no país no dia 18 de setembro de 2024, após obter permissão da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para voos de teste, a empresa organizou um evento no Aeroquadra Flight Club em Quadra, a 129 quilômetros da cidade de São Paulo. Lá, a aeronave decolou pela primeira vez no Brasil, sem passageiros.
“Desde o final de 2023, quando trouxemos o EH216 eVTOL, estávamos sonhando com o momento em que finalmente veríamos a aeronave decolar no Brasil. Esse dia chegou e estou incrivelmente feliz por fazer parte desse momento histórico para o nosso país e para o futuro da mobilidade aérea urbana”, disse Adriano Buzaid, CEO da Gohobby.
Os carros voadores não são mais ficção científica, são uma realidade tecnológica que esbarra em questões legais, sociais e operacionais. E para quem ama a aviação ou sonha em sobrevoar a cidade como nos “Jetsons”, a boa notícia é que esse futuro está cada vez mais próximo. Mas, até lá, precisamos garantir que a inovação venha acompanhada de segurança, responsabilidade e planejamento.
*Fotos: Go Hobby (divulgação)
*Paulo Caetano é: Piloto Comercial de Avião, Especialista em Direito Aeronáutico, Pós graduado em Gerenciamento Estratégico de Pessoas, MBA em Engenharia de Perícias , Palestrante e Colunista do Jornal Cotia Agora

