Coluna de Rafael Oliveira: As paranoias do The Nacional e o disco Sleep Well Beast

Lançado em 2017, Sleep Well Beast é o sétimo álbum de estúdio da banda indie rock The National. Aclamado pela crítica, o álbum levou a banda a explorar novos territórios sonoros, incorporando mais elementos eletrônicos e experimentais ao seu som já conhecido por arranjos melancólicos e letras introspectivas. Sleep Well Beast é um mergulho profundo em temas de crise conjugal, política e a luta interna com o envelhecimento e as expectativas da vida adulta. A combinação de letras poéticas, arranjos sombrios e a voz grave e emotiva de Matt Berninger cria um ambiente envolvente e carregado de sentimentos.

Produzido pela banda, em colaboração com o guitarrista Aaron Dessner, o álbum equilibra as características emocionais e sombrias pelas quais a banda é conhecida com uma abordagem mais ousada em termos de texturas e ritmos. Ao mesmo tempo que mantém o lirismo lírico de Berninger no centro, Sleep Well Beast é sonoramente diversificado, com camadas sutis de eletrônica, pianos delicados e guitarras distorcidas.

O álbum começa com uma faixa intimista e atmosférica. “Nobody Else Will Be There” é delicada, com um piano minimalista e batidas suaves, criando uma sensação de isolamento. As letras falam sobre o desejo de fugir de situações sociais, algo muito pessoal de Berninger. O ritmo arrastado e o tom sombrio criam uma atmosfera introspectiva e vulnerável. Uma introdução suave e envolvente, que prepara o ouvinte para o tom emocional do álbum.

Aqui, a banda introduz uma batida mais rápida e guitarras mais pronunciadas, contrastando com a faixa anterior. “Day I Die” aborda o desgaste de relacionamentos e a frustração do cotidiano. O refrão enérgico e os riffs de guitarra marcantes tornam esta faixa uma das mais acessíveis do álbum. A combinação de lirismo existencial e um instrumental cativante cria uma das músicas mais dinâmicas de Sleep Well Beast.

Uma das faixas mais experimentais do disco, “Walk It Back” se destaca por seu uso de sintetizadores e texturas eletrônicas. A letra é enigmática e política, refletindo o ambiente de incertezas sociais e pessoais. A repetição de frases, como um mantra, reforça o tom desconexo e quase meditativo da música. É uma faixa que exige múltiplas audições para se apreciar plenamente sua complexidade.
Primeiro single do álbum, “The System Only Dreams in Total Darkness” é uma das faixas mais emblemáticas de Sleep Well Beast. Com guitarras distorcidas e um ritmo pulsante, a música combina bem a sonoridade familiar da banda com uma nova ousadia instrumental. As letras falam sobre desconexão e isolamento, temas recorrentes no álbum. A mistura de rock e elementos eletrônicos, aliada à performance vocal apaixonada de Berninger, faz dessa faixa um destaque.

Esta faixa desacelera o ritmo com uma balada triste e comovente, onde os sintetizadores suaves e o piano se misturam a letras melancólicas. “Born to Beg” reflete uma sensação de desespero e resignação diante das dificuldades da vida. A produção sutil e a simplicidade dos arranjos tornam a música profundamente emocional, com a voz de Berninger transmitindo vulnerabilidade.

Um ponto fora da curva no álbum, “Turtleneck” é uma das faixas mais agressivas e cruas da banda. Com guitarras explosivas e um vocal mais nervoso de Berninger, ela rompe com o clima sombrio e introspectivo das outras canções. A faixa aborda a frustração e o caos, tanto pessoal quanto político. Seu ritmo frenético e sua energia caótica lembram o rock mais visceral, oferecendo um momento de catarse no meio do álbum.
Uma canção melódica e envolvente, “Empire Line” é construída sobre batidas eletrônicas e sintetizadores, criando uma atmosfera imersiva. A letra fala sobre separação e a dificuldade de comunicação em um relacionamento. A mistura de sons eletrônicos e orgânicos dá à música uma profundidade emocional, e o refrão é marcante, apesar de ser sutil. É uma faixa que exemplifica a evolução sonora da banda.

“I’ll Still Destroy You” é uma faixa que combina elementos eletrônicos com uma batida suave e repetitiva, criando um clima meditativo e quase hipnótico. A letra lida com ansiedade e autossabotagem, temas comuns em Sleep Well Beast. O uso de sintetizadores cria uma paisagem sonora envolvente e melancólica, enquanto a performance vocal de Berninger transmite uma sensação de introspecção.

Uma das faixas mais melancólicas do álbum, “Guilty Party” é uma meditação sobre o fim de um relacionamento. A produção minimalista e os vocais contidos de Berninger destacam a dor e o arrependimento expressos na letra. Com um refrão repetitivo e melódico, a faixa se torna hipnótica, com um uso sutil de eletrônica que complementa o sentimento de tristeza. Uma das faixas mais emocionais e poderosas do disco.
“Carin at the Liquor Store” essa faixa lembra o estilo mais clássico do The National, com piano melódico e uma entrega vocal melancólica. A letra fala sobre memórias e arrependimento, com Berninger revisitando relacionamentos passados. A música é nostálgica e carregada de emoção, e o arranjo simples permite que os sentimentos venham à tona com mais intensidade. Um dos momentos mais reflexivos do álbum.

“Dark Side of the Gym” aqui, a banda cria uma faixa romântica e melancólica, com um instrumental delicado e arranjos suaves. A letra fala sobre o desejo de manter um relacionamento em meio ao desgaste, enquanto a produção cria uma atmosfera onírica. O ritmo suave e a beleza melódica tornam essa música um dos destaques mais acessíveis e poéticos de Sleep Well Beast.

“Sleep Well Beast” a faixa-título encerra o álbum com uma mistura de sons eletrônicos e orgânicos, refletindo o estilo mais experimental que permeia o disco. As letras são vagas e poéticas, criando uma sensação de encerramento enigmático. A música tem um tom sombrio e introspectivo, encerrando o álbum com uma sensação de inquietação, como se as perguntas levantadas ao longo do disco ainda pairassem.
A escolha da melhor canção de Sleep Well Beast pode variar de acordo com a perspectiva pessoal do ouvinte, mas uma faixa que se destaca amplamente é “The System Only Dreams in Total Darkness”. Como primeiro single do álbum, ela captura perfeitamente a essência de Sleep Well Beast ao combinar o som melancólico característico do The National com uma nova ousadia instrumental, especialmente nas guitarras mais agressivas e nas camadas eletrônicas.

A faixa tem um ritmo envolvente, letras introspectivas e um solo de guitarra marcante, algo menos comum no repertório da banda. Além disso, ela equilibra bem a melancolia emocional com uma sensação de urgência e tensão que ressoa em temas de desconexão e isolamento, tornando-a um ponto alto do disco e um dos momentos mais memoráveis. Eu escolho para fazer parte da setlist do Programa Garimpo da Rádio Meteleco – https://meteleco.net – semanalmente exibido às 16hs de segundas as sextas-feiras.

Sleep Well Beast é uma jornada emocional e introspectiva, onde cada faixa oferece uma experiência única. A banda mantém seu lirismo melancólico característico, mas expande seu som com elementos eletrônicos, criando um álbum que é tanto íntimo quanto expansivo. Ouvir Sleep Well Beast é uma experiência envolvente e gratificante, especialmente para aqueles que apreciam letras profundas e arranjos atmosféricos. O álbum não só evolui o som do The National, mas também solidifica sua posição como uma das bandas mais importantes e inovadoras do indie rock moderno.

Conheça mais sobre esse trabalho com os seguintes temas relacionados:

Acesse os canais de mídia
Instagram: @rafael.s.deoliveira.9

*Rafael S. de Oliveira – Mórmon/SUD – Com oficio de Elder, Diretor de Assuntos Públicos e Especialista de Bem Estar, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Vice-Presidente – O Observatório: Associação de Controle Social e Políticas Públicas da Zona Oeste de SP (mandato 2020-2023). Técnico em Políticas Públicas pelo PSDB (Partido da Social Democracia do Brasil), Engenheiro de Produção e ex-gestor por 3 grandes empresas (Luft Logistics, IGO SP e TCI BPO). Apresentador e Produtor pela Rádio Meteleco.Net (Programa Garimpo) e Colunista no Jornal Cotia Agora (Caderno de Música, Discos, Experiencias e Cultura).